terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O herói do Mogincual


Neutel Martins Simões d’Abreu (Figº dos Vinhos, 1871-1945), Oficial de Infantaria do Exército Português – Major; apelidado pelos nativos do norte de Moçambique como «Mahon»; nasceu faz hoje 142 anos.

Neutel d’Abreu com a farda colonial de Capitão.
Quadro a óleo, provavelmente pintado em África por autor anónimo, oferta da Família do retratado ao Município de Figº dos Vinhos.
(foto reenquadrada e retocada)












Nasceu na Várzea Redonda em 3 de Dezembro de 1871. Filho de Domingos António Simões e Mª das Dores Martins Ferreira de Abreu.

Aos dezassete anos, a 15 de Junho de 1889, assentou praça como voluntário no Exército. Em 1890 partiu para Macau. Sendo posteriormente (1891) colocado em Angola, Moçâmedes, onde se envolve em campanhas militares, após o que regressa à metrópole.
Aos vinte e cinco anos de idade (1896), com a patente de Sargento, é colocado em São Tomé e Príncipe e, de seguida, volta a Angola onde por motivo de doença (biliosa) é obrigado a regressar mais uma vez à metrópole.
Em 1898 é colocado em Moçambique mas, vitimado de novo pela biliosa, retorna à metrópole. No ano seguinte, já restabelecido, volta em definitivo àquele território, onde acabou por viver as três décadas subsequentes.

Em 20 de Julho de 1900 encontra-se como Comandante do Posto Militar do Mogincual e com o raio de acção limitado à área do forte, pois ali acabava a soberania portuguesa - já que, mal se transpusesse os portões do mesmo, choviam as flechas e os tiros dos nativos rebeldes. Disposto a acabar com este estado de coisas e «imbuído no espírito de Mouzinho de Albuquerque que sempre admirou», lança-se a fustigar os rebeldes acabando por dominar toda a região e desimpedindo as parcas vias de circulação, nos três anos seguintes. Em 1901 atinge o patamar do oficialato, como Alferes.
Envolveu-se nas operações de restabelecimento da soberania portuguesa na zona de Angoche, combatendo as forças de Farelay, em 1903. No ano seguinte é promovido a Tenente. Já nessa altura Neutel d'Abreu tinha sido diversas vezes louvado e condecorado, sendo-lhe reconhecido sempre actos de bravura. Continua a sua actividade militar integrando as colunas que derrotam o Xeque Mamude Amade, o Régulo de Matibane e Quitangonha, e, posteriormente, o Régulo Napipi, na zona de Quinga, em 1904.

Conhecedor dos costumes africanos, apesar da sua postura de militar e colonial, fez em Janeiro de 1907 um pacto de sangue com Mucapera, Régulo macua de Corrane, facto inédito nos anais da história militar portuguesa em solo moçambicano. Tal permitiu-lhe arregimentar, sempre que precisava, centenas de homens do regulado para as várias funções secundárias que as suas campanhas militares careciam, tais como carregadores, combatentes de segunda linha e pisteiros. Sobre este pacto escreveu Neutel d'Abreu:
«Este acto parecerá à primeira vista fantochada, sobretudo para aqueles que não conhecem os usos e costumes dos indígenas. O que é certo é que este acto deu maravilhosos resultados no decorrer da ocupação do Distrito, quer poupando muitos contos de réis ao Estado, quer poupando vidas de soldados, porque, considerando-me o régulo seu irmão mais velho depois da nossa aliança, nunca mais se recusou a fornecer os homens armados que eu lhe pedia, não só centos deles mas até milhares. Estes homens fornecidos pelo régulo Mucapera prestaram sempre relevantes serviços em todas as campanhas em que tomaram parte, quase todas as do Distrito e até contra os alemães do Niassa».

Monumento a Neutel d'Abreu e aos Mortos da Guerra Colonial,
 em Figueiró dos Vinhos.
Localizado ao início da Av. Heróis do Ultramar, enquadrado por um diedro em pedra
com o registo histórico-cronológico do homeneageado,
e acompanhado pelo rol dos figueiroenses mortos na Guerra Colonial.

É nomeado em 1909 Capitão-Mor da Macuana, sedeado no Itoculo, depois de ter soberanizado Nampula (1907) e penetrado, em viagem de reconhecimento, até ao Alto Ligonha, no Distrito de Quelimane. Isto, a par da subjugação dos regulados de Ribaué (30 de Abril de 1908) e Murrupula (1909), permitiu uma melhor interligação e conhecimento de vastas regiões ignoradas do sul e oeste daquele Distrito de Moçambique.
Em 1910, integrado nas operações militares de pacificação do Sultanato de Angoche, trava vários combates contra as forças aliadas a Farelay e Cobula. Após a campanha de Angoche volta as suas atenções para oeste e, a partir de Ribaué, estende a sua acção militar a Malema (1912) e Mutuáli (1913), entre outros povoados, travando combates contra régulos insubmissos, para além de proceder à abertura de estradas e montagens de postos telegráficos.

Em 1916 serviu, como Capitão e no decurso da Primeira Guerra Mundial, as forças do Coronel Sousa Rosa e, em 1917, trava vários combates contra forças rebeldes macondes, nomeadamente em Nacature. Com o findar da Grande Guerra ganha as divisas de Major (1918). Dois anos depois a Junta Geral de Saúde declara-o incapaz de continuar serviço, passando à reforma nesse mesmo ano. Tinha então 49 anos.

Dedica-se à agricultura e, no exercício da sua actividade como colono, promoveu a exploração de palmares no Mogincual. No entanto a sua actividade empresarial não foi tão brilhante quanto a de militar. Falido e doente, é através de ajudas financeiras de amigos que regressa à metrópole em 1930, acabando por não mais voltar a Moçambique. Isto apesar de ter sido convidado a acompanhar o Presidente da República Óscar Carmona na viagem que este efectuou ao território em 1939, e que teve de recusar por motivos de saúde.

Neutel d'Abreu na sua farda de Major e 
com o Colar da Torre e Espada.
Quadro do artista cernachense
Túlio Victorino, datado de 1941,
e que pode ser visto no 
Salão Nobre da Câmara Municipal 
de Figueiró dos Vinhos.


Neutel d’Abreu apresenta ao longo da sua vida de militar e colonial um invejável palmarés de 13 louvores e 11 medalhas, entre as quais a de Comendador da Ordem da Torre e Espada. 

           
Alvo de Homenagem Nacional, em sessão solene realizada na Sociedade de Geografia, em 29 de Junho de 1941. Uma das últimas consagrações públicas tem lugar no 28 de Maio de 1943, na Praça do Império em Lisboa, quando recebe a derradeira condecoração.


Morre dois anos mais tarde, a 8 de Dezembro de 1945, na sua terra natal, poucos dias após completar os 74 anos de idade. «Entra em definitivo na História o mítico “Mahon”, por muitos considerado o grande conquistador do norte de Moçambique».


Cartão de Visita autógrafo de Neutel d’Abreu, 
agradecendo as «palavras de bom amigo» por ocasião «da homenagem que lhe foi prestada», com votos de «saúde e… venturas» 
(c.1941,
frente e verso)












3 Dez. 2013. LBG


Texto transcrito, com adaptações e complementos posteriores, de satanhoco.blogspot.pt
O original pode ser consultado aqui


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Notas sobre uma Exposição

seguidas de:

O «Desterrado» por terras de Figueiró…?

  
Dar um salto até Figueiró dos Vinhos é sempre agradável. E recomenda-se. Principalmente se amanhece fresco e o dia se põe solarengo, sem aqueles calores que torram a disposição. Sinal que a volta, feita pelo entardecer, terá cenário magnífico. E uma bela viagem é aquela que, sem pressas ou obrigações de chegar, se faz só para ver. Ver, principalmente, e também rever. 
Ver, que há sempre algo que se não viu ou se vê de modo diferente – um pormenor da paisagem, o recorte de um monte, uma outra cor da vegetação. Alguma coisa que ainda não víramos ou que vemos de modo diverso.
O mesmo se passa com os quadros (ou o que for). Olhar de novo, com outra disposição ou outra luz, dá sempre para ver mais qualquer coisa. É também recomendável.

Foi o que fiz um dia destes. Sem pressa de acabar nada, sem o incómodo das inaugurações, só para ver. Ver de novo as exposições do Museu e Centro de Artes, e ver as novas coisas que por lá há. Deu gosto e recomendo uma vez mais.

No edifício do «Casulo», quase, quase de cara lavada (com uma ou outra janela já a empenar, e alguns salpicos de branco sobre o almagre…), dá gosto entrar. Instalar ali o posto do Turismo foi uma boa ideia e, enquanto se mantenha simples e com simpático atendimento, muito apropriado.

foto: Pedro Aboim Borges

Na casa de jantar (onde faltam só uns “finalmentes”) já lá estão, fazendo companhia aos dois frisos em tela de António Ramalho e a orlar as traves do tecto, limpos e mimosos, os quadrinhos oferecidos pela malta das Belas-Artes aquando da primeira recuperação em 1985, a fim de tapar os buracos deixados pelos “desaparecidos”. (Mas urge “dar nomes aos bois” e catalogar devidamente a interessante colecção, antes que seja tarde e se esqueçam os autores – é que todos já não vamos para novos…). 
Faltam ainda a mesa, obra de marcenaria de Joaquim Granada a encomenda de Malhoa [1], as cadeirinhas de rabo-de-bacalhau e o candeeiro [2] - e, já que “miraculosamente” sobreviveram cento e alguns anos, oitenta dos quais longe das mãos de Malhoa, seria lastimável que se perdessem agora.
Subindo ao andar, é simpática a pequena exposição de painéis quase discretos, simples e concisos que mostram, nalgumas boas fotos antigas, parte da história do «Casulo» sem desnecessárias fantasias – sim senhora! E deliciosas as duas cartinhas de Malhoa, uma delas dando resposta conveniente ao delírio de uma terceira, do Vasconcelos do pão-de-ló, que também ali se mostra – sinal que a parvoeira não é coisa nova. «Com esta, o Malhoa acaba de subir dois pontos na minha consideração!» - ouvi de pronto e de pronto concordei.
Mais uma escada. E do sótão, do quarto da «Maria dos Pintaínhos», temos a melhor vista de toda a casa sobre o vale e as serranias do lado de lá do rio. Vale a subida.
Descendo à loja e ao seu recente acrescento, o recém-inaugurado Museu do Xadrez é bonito de ver. Bem pensado, bem iluminado e aproveitando inteligentemente o pequeno espaço disponível, mostra interessantes colecções. (Mas é imperioso tirar os vidros às duas “gateiras” para tudo aquilo poder ventilar naturalmente, ou a humidade dá xeque-mate em três tempos… fica o aviso).

          Com prazer, notamos o regresso do antigo banco de ferro do jardim, onde tantas vezes Malhoa assentou o rabinho – mais um “milagre” da sobrevivência. (Mas ali, não! Há que lhe encontrar novo poiso, de preferência sob uma sombra, e assentá-lo convenientemente). Sombra e assentamento, também merece o caramanchão (assim, se nos sentamos, torramos e ficamos de pés no ar). Devolver-lhe a função é coisa simples: enterrar-lhe os pés no chão, e na terra enfiar um ou dois pés de rosas-de-toucar ou da “glicínia-dos-rouxinóis” (da original ainda há – um outro “milagre” de longevidade – e é coisa que se pode arranjar…). Por fim, e já que se não destruiu o laguinho como indicava o plano, que tal voltar a orlá-lo com as pedras originais e deitar-lhe uma pouca de água? Isso é que era!
(Devolver função às coisas e delas usufruir, é bem melhor que as prantar por ali como se fossem esqueletos de um dinossáurio, mesmo que «excelentíssimo».)


Visitemos agora o museu. De novo ou como uma primeira vez.
Passado o atendimento simpático e disponível quanto basta, uma agradável surpresa é o número de visitantes com quem nos cruzamos – filhos da terra em férias, turistas de passagem, nacionais e estrangeiros, em diferentes pequenos grupos. Para um dia de semana, mesmo sob o efeito novidade, não pareceu nada mal. Oxalá…!

Como prometi a mim mesmo não falar de arquitecturas a fazer bicos e com pouca ponta que se lhe pegue, ignoremos o continente, falemos só do conteúdo. Esse, já se sabia, é bom. E, visto com olhos de ver, bastante bom mesmo.


Logo de caras damos com o poderoso retrato a carvão do Senhor D. Luiz I, 1884. É um desenho magnífico, do melhor que Malhoa terá feito por aquela altura. Durante anos meio perdido, meio ignorado, pouco visível lá no alto da parede do Salão Nobre da Câmara, revela-se agora, visto com olhos de ver, como um belo dum desenho! (E é divertido observar um ou outro visitante mais “avisado”, mirando e remirando, entre o quadro e a tabela, sem perceber como o propalado «D. Carlos», de quem sempre ouvira falar, se transformou agora no monarca antecedente – a vida tem destas coisas…)

Quem também se mostra divertido é Zilo Alves da Silva, no seu retrato pintado por Malhoa em 1929. Sem ser grande obra, mostra-nos personagem figueiroense, das relações do pintor, com o seu ar patusco por detrás dos oculinhos redondos.

Obra grande, pelo menos em tamanho, é Clara, 1903, (façam o favor de lá ir confirmar: «José Malhôa | 1903» - não sou eu a teimar, é Malhoa a escrever – esta é outra azarada à qual trocam volta e meia a data, muitas vezes aparecendo por aí como do tal “ano dos prodígios” de 1918 …). Grande, a Clara enche o olho, talvez não o coração. De tão malhoesca que é, irrita um bocadinho… tem lá tudo, mas parece que lhe falta alguma coisa… Até que os nossos olhos vão descendo, descendo, e lhe encontram os pés… e aqueles pés, encardidos, brutos de tanta ribeira e caminho, valem pelo quadro todo – só por isso, é mais uma bela pintura.


Sobre tabelas e datas trocadas, há uma que tem “gato” (engano menor, mas engano). Como se pode observar no próprio local, o bronze de Simões d’Almeida (tio) retratando o Comandante Augusto Cardoso está datado, como não podia deixar de ser e tal como o gesso que lhe serviu de matriz, de 1888 (e não com a que a tabela tem escrita). Simões modela-lhe o busto no seguimento da sua consagração. 


Conta-nos um entusiasmado Luciano Cordeiro [3] que numa assembleia solene da Sociedade de Geografia, a 13 de Dezembro de 1886, houve conferência de um ainda jovem Cardoso e do renomado major Serpa Pinto, onde se narraram as aventuras extraordinárias da exploração conjunta por terras do Niassa, do Lienda, do Rovuma e de mais uns nomes esquisitos… Tinha o então Tenente da Marinha, mais ou menos, o parecer desta gravura.
(A presença nesta mostra do Busto do Comandante Augusto Cardoso, 1888, grande amigo de Malhoa e também de Henrique Pinto e já aqui referenciado em artigos anteriores, é coisa de saudar, mas é assunto que fica para depois…)


Manuel Henrique Pinto está representado por dois óleos: Adormecido, 1891, e À porta do Convento, c.1897. Ambos quadros figueiroenses. O primeiro retratando um dos filhos do Eduardo (Dias Coelho), então rendeiro dos Serras na Fonte Cordeiro; o segundo, tomado do fundo da Vila junto à porta do Convento do Carmo, fixa a torre da Igreja Matriz tal como era antes das obras de 1898, e a Torre da Cadeia já sem reboco nos paramentos, mas ainda rebocada e caiada nas ameias do coroamento (um belo documento para acabar com a refilice que dura desde que voltaram a rebocar aquilo tudo…). Ambas são boas pinturas.


O Adormecido, muito bem iluminado e que agora se vê como há muito se não via - quase se não lhe notam as mazelas – parece saído da 2ª Exposição do Grémio Artístico, a primeira aonde foram conferidos prémios. E onde lhe foi atribuída uma Terceira medalha - prémio significativo e honroso, principalmente se recordarmos que a Primeira e Segunda foram para a Barca de passagem em Serreleis (Minho), 1892, de Silva Porto, e para os 16,5 m2 de O último interrogatório do Marquês de Pombal, 1891, de Malhoa, com a controvérsia sabida…


De Simões d’Almeida (sobrinho) podemos ver o incontornável Busto da República,1908 - orgulho do antigo Clube Figueiroense - e outras boas peças de escultura. Uma delas, uma pequena Leoa, rugindo e arrastando a perna, merece apontamento.

Não pela sua importância, que «gesso» não é – se o fosse, talvez outro galo cantasse… Mas por se tratar, sem sombra de dúvida, de mais um exemplar em biscuit de porcelana da Vista Alegre, semelhante a este aqui reproduzido [4] (como bem lembrou já a minha ainda prima Débora). 
O exemplar que podemos ver no museu de Figueiró, só não é igual a este porque lhe partiram a frecha que lhe perfurava o glúteo – todavia não curaram a Leoa ferida, que continua a arrastar a perna e rugir de dor, e no local do tiro lá está a marca da betadine… Em ser ou não ser múltiplo várias vezes reproduzido, não é o mais importante, continua uma bela escultura. E, a crer no que diz o catálogo do leilão, o modelo original de Simões será anterior a 1924. Leoa ferida seu nome.


(No andar superior há uma outra exposição. Dessa já aqui falámos, e com direito a complemento.)


Voltemos ao Simões, mas ao outro – o Tio deste último.

Logo ao começo da visita, no meio dos retratos feitos por Malhoa, há um quadrinho, até agora praticamente desconhecido, de boa pintura, óleo sobre madeira, retratando um homem barbado de olhar sensível e melancólico, com um pequeno gorro avermelhado na cabeça e vestindo um guarda-pó de escultor. Está assinado e aparentemente não datado.
De proveniência incerta - «comprado, não se sabe bem quando, a um antiquário da Figueira da Foz, como sendo do Simões d’Almeida», não é propriamente carta de alforria. É, no entanto, pintura de quem sabia pegar no pincel. E a assinatura, já muito sumida, a precisar de cuidadosa limpeza e talvez de estudo fotográfico sob luz rasante, é muito provável que seja mesmo a de Simões. Tomemos, portanto e com muito poucas reservas, como certa a autoria de Simões. Que o resto pode ser visto olhando.
Tudo isto - que é uma boa pintura, merecedora de figurar na mostra, provavelmente dos tempos de Roma ou Paris, retratando um escultor (quem sabe em «auto-retrato (?)») e que é de Simões d’Almeida – já Matilde Tomaz do Couto, a comissária da exposição, teve o mérito de estabelecer – "o seu, a seu dono". E, com a responsabilidade devida, na tabela acrescentou uma cuidadosa interrogação «(?)» ao suposto «auto-retrato» [5]. Com toda a razão.

Pois esta parte de se tratar do «auto-retrato» de Simões, é coisa que não engoli. E se olharmos para algumas fotografias ditas de Simões d’Almeida e alegadamente datadas por essa altura [6], muito dificilmente poderemos concordar que o retratado seja o próprio – por muito que se queira ou seja isso conveniente.


Resolvido, portanto, olhando com olhos de ver, o cisma se é ou não é um «auto-retrato» de Simões… Resta saber quem é, afinal, o modelo da pequena tábua.

Na senda do «Desterrado»…

Olhar de novo, sem pressas ou preconceitos, tem as suas vantagens… ver o que não vimos outras vezes, rever razões e saberes.

Paris, finais dos anos oitocentos e sessenta - «Foi num daqueles anos de revolta pela liberdade, que [S.] chegou a Paris, tímido e viciado pelo que aprendera lá longe […]. Em pleno vulcão prestes a rebentar, e por entre os folgares da rapaziada boémia e leviana, [S.], taciturno e crente, trabalhador e generoso, produziu as primeiras obras […], frequentando as aulas de Yvon […] e de Jouffroy […] com Simões de Almeida […] assistiu às cultas e filosóficas lições de Mestre Taine, cujo sentido lhes deu as primeiras ganas de irem consultar os museus antigos, e sobretudo a natureza, que é boa conselheira dos artistas […]. O que salvou [S.] foi o seu constante aparafusar nas razões, a sua teima em se guiar só pela própria cabeça, e a sua misantropia de rebelde sonhador, que o libertaram de tanto dogma e tanta falsidade.» [7]

Roma, início de setentas - «… tôdas as manhãs, com um caderno nas unhas, seguia a visitar as estátuas e monumentos romanos, desenhando aqui e ali, e meditando à sombra dos loureiros que brotavam por meio daquelas ruínas. […] Mais tarde, já adaptado aos encantos da cidade […] e pronto a começar obra de vulto, passou-se para os quartos pitorescos de Santo António dos Portugueses […] onde, de colaboração com o camarada Simões de Almeida, que aqui viera topar de novo, executou, em mármore, um medalhão com o retrato de Sequeira [...] cuja memória êles tanto respeitavam. […] Guardada a oficina da Rua de S. Nicolo, ali se foi entregando ao sentir pungente do destêrro. Era essa expressão de resignada dor que êle gostaria de traduzir num mármore. De sofrimento em sofrimento, de meditação em meditação, a inspiração foi esbarrar-se-lhe na concepção do Desterrado, que os versos de Herculano auxiliaram em sugestão. Pensando no exílio e no seu natural desalento, a imagem foi-se-lhe desenhando em claridades, lá no âmago. Para se distrair, ia de quando em vez visitar o colega Simões, que ultimava a sua prova final: Bem me queres, mal me queres, e que, por admiração, o estimulava a começar a derradeira prova. […] O Desterrado é, depois disto, um auto-retrato da nostalgia e dos desassossêgos de Soares dos Reis.» [8]

Como já se percebeu, o Sicrano desta história - tímido, taciturno e crente, trabalhador e generoso, misantropo e sonhador, que se entrega ao sentir pungente do desterro, em expressão de resignada dor, de sofrimento em sofrimento, pensando no exílio e no desalento, o autor sublime de o Desterrado – é o grande António Soares dos Reis (1847-1889). Retratado aqui nas sábias e deliciosas palavras de Diogo de Macedo, talvez o seu melhor biógrafo.

E se Desterrado é «um auto-retrato da nostalgia e dos desassossegos de Soares», este quadrinho, agora mostrado em Figueiró, é bem capaz de ser o outro retrato dessa mesma nostalgia e desassossego, numa expressão de resignada dor, o retrato de Soares dos Reis feito pela mão do camarada Simões, lá pelos anos romanos…



A história acima contada aos pedaços explica ocasião, local e situação. As fotos abaixo reproduzidas [9] admitem parecenças e expressões condizentes (principalmente se imaginarmos barba e bigode com tamanho intermédio entre a foto parisiense e o bigode de “filtrar sopa” das fotos posteriores) e se atentarmos bem nas orelhas, cabelo e outros pormenores faciais.


Claro que isto sou eu a falar, escudado por “irresponsabilidade jurídica” e sem mais “incompatibilidades”. Pode ser que me engane - não o creio.
Fica o grito do rapazinho – «Há lobo, há lobo!» - corram agora a Figueiró, caçadores, feras e demais circunstantes!


Fica também o bem conhecido Retrato de Soares dos Reis, 1881, óleo de João Marques d’Oliveira, existente no MNSR, do Porto. Também com este se podem fazer comparações interessantes…

E, mesmo que não seja nada disto, restam sempre os medalhões em que os velhos camaradas de Paris e Roma se retrataram mutuamente. Fechando um abraço de amizade entre dois grandes Escultores, já pelo final da «vida dolorosa» do maior de todos – António Soares dos Reis. 




15 Ago. 2013. LBG




… e só mais uma coisinha

        Entretanto passou-me à frente dos olhos um outro retrato, julgo que muito pouco conhecido, de Soares dos Reis. 
             Este.



É obra de Columbano, está datada e, embora seja difícil de ler, parece ser de 1887, pela altura em que Soares conviveu mais de perto, e em Lisboa, com os do Grupo do Leão…
          A crer no publicado na revista Serõesnº34, de Abril 1908, onde está reproduzido, é mais um retrato do Escultor portuense.

Vale a pena olhar e com olhos de ver. E comparar com a pintura de Simões d’Almeida Júnior. Mas tendo em conta que possivelmente dezena e meia de anos separam os dois retratos...

20 Nov. 2015. LBG






[1] Diz-nos Malhoa, a este propósito, no seu livro Receita | Despeza: «Maio de 1900 - 1 – Dinheiro que mandei para o Quaresma, importancia de folhas de salario do Joaq.m Carpinteiro [antes identificado como Joaquim Granada] na execução da mesa da Casa de jantar e armario assim como miudezas apresentadas pelo Julio e conta do Teixeira – 33$845».

[2] Sobre a compra do dito, diz-nos igualmente Malhoa: «Março de 1900 – 30 – Candeeiro pª a casa de jantar em Figueiró – 33$390».


[3] In O Occidente, nº291, 21 Jan. 1887, p.19 a 21.

[4] Retirado do catálogo - VIII Leilão Vista Alegre. Lisboa: Cabral Moncada Leilões. 2007. p.79.


[5] Entretanto, no site do MCAFV, a referida cuidadosa interrogação já desapareceu…?! Seja por desejo, descuido ou falta de qualquer coisa, não é por isso que o quadrinho passa a ser mesmo o «auto-retrato» do Simões…


[6] Disponíveis aqui e aqui


[7] MACEDO, Diogo de – Soares dos Reis: Sua Vida Dolorosa. Lisboa: Edições Ocidente. 1943. p.27, 28, 29.


[8] Idem, idem. p. 35, 36, 37.


[9] Retiradas daqui, dalgures, e do livro atrás citado. 


Das restantes fotos, algumas podem ser vistas por aqui e ali.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Esperança, saudade e o D. Sebastião…



Poderá parecer algo pessoano, pelo menos de algum dos seus heterónimos; ou algum discurso serôdio, dos de convencer a populaça que assim é qu’é caminho, e aos quais já ninguém liga nenhuma… - mas não!
Trata-se de dois títulos de José Simões d’Almeida júnior (1844-1926) - um por agora exposto em Figueiró dos Vinhos, terra natal do Escultor, o outro talvez uma das suas mais celebradas Obras.


D. Sebastião, 1877, ou imprópria mas “eruditamente” também chamado «D. Sebastião lendo Os Lusíadas», é uma escultura de vulto pleno, em mármore, com 1,36 m de altura, em depósito no Museu do Chiado, agora e ainda bem, mostrada na sua exposição permanente.
Esta versão em mármore de Carrara fez parte das colecções Reais [1], integrando por isso o acervo do Palácio da Ajuda. A passagem do gesso original ao mármore foi encomenda do rei D. Luís a Simões d’Almeida, após o êxito da sua apresentação na 10ª Exposição da Sociedade Promotora das Bellas Artes em Portugal, 1874, e que valeu ao autor a medalha de prata, dois anos após o regresso de Simões dos seus estudos genoveses e romanos.

Em 1878, a nova versão em mármore, já pertença do Rei, estará presente na Exposição Universal de Paris. E disso nos dá conta O Occidente [2], dizendo-nos «é uma obra de arte notabilissima, capaz de figurar honrosamente em todos os certamens artisticos do mundo civilisado», mas ilustrando-a através desta gravura de Caetano Alberto que regista a versão original em gesso e não o mármore que viajou até Paris. Também nesta mostra Simões será premiado, agora com uma terceira medalha, provavelmente com outra Obra [3].

Como não é difícil de perceber, o gesso, o original de D. Sebastião, em tempos no acervo da Academia Real das Bellas Artes e ao que ouvi dizer agora em mau estado, terá de ser datado cerca de três anos antes, o ano da sua primeira mostra.
E sobre esse D. Sebastião, c.1874 – o original – poderemos constatar, consultando o catálogo da 10ª Exposição da Promotora, que a velha estória de «… lendo Os Lusíadas» é uma real treta! Mais uma daquelas alarvidades que alguém diz ou escreve, do alto de pretensa sabedoria, todo contentinho, neste caso atacado talvez de camoenite aguda, e logo é aplaudida e repetida por uns tantos espíritos mais crédulos… E a coisa fica.

Ora, o nosso amigo Simões, que não era burro e para realizar tal obra se deve ter bem documentado [4], sabia o que fazia. Sabia a diferença entre uma «Cruz de Avis» e uma Cruz de Cristo, sabia que insígnia o rei-menino deveria ostentar enquanto Rei e Grão-Mestre da respectiva Ordem, e sabia que livro poderia colocar na mão do ainda muito jovem monarca. Sabia isto tudo - coisa que muitos, pelo visto, não souberam ou fizeram por esquecer.



Por saber e saber bem, Simões d’Almeida modela – e depois cinzela – o menino Rei com as insígnias da Ordem de Cristo, tendo na mão um exemplar da História de Portugal. E, tal como o fez, assim o escreveu, para todos sabermos: «D. Sebastião lendo na História de Portugal os feitos heroicos dos seus antepassados, pensa na conquista d’Africa». Assim, simples mas rigoroso, como sempre se pôde ler no respectivo catálogo. A formulação e a ideia até podem ter algum espírito lusíada ou camoniano - mas não é a mesma coisa!

Porque, sejamos sérios, El-rei D. Sebastião (1554-1578), enquanto menino ou jovem adolescente, com um exemplar de Os Lusíadas na mão, é uma impossibilidade espácio-temporal. Por muito que se queira ou seja conveniente, é daquelas coisas só possíveis em filmes de ficção com carros esquisitos que ficaram para a história apenas por isso mesmo [5].

Embora alguns digam que Luís de Camões possa ter finalizado o poema épico cerca de 1556 (teria D. Sebastião dois anos), o certo é que o Vate se manteria pelos Orientes ainda muitos anos – da Índia a Macau e à costa de África, com naufrágios pelo meio e dramáticos salvamentos do precioso manuscrito - sem fax, mail ou ipad… Só em 1570 (teria o rei dezasseis anos), e aqui parece haver consenso, o Poeta maior volta à pátria e desembarca em Cascais, sempre agarrado à sua querida obra. Depois disso, dar-se-á o episódio da leitura do poema ao rei [6], alegadamente em Sintra, e o empenho do monarca na publicação da Obra. A primeira edição de Os Lusíadas verá a luz do dia no ano de 1572 (teria o rei já dezoito anos).

Estamos, portanto, conversados – «D. Sebastião lendo Os Lusíadas», ainda de “bibe e calção”, nem por grande favor… só mesmo «cantando e rindo»! E como o próprio autor teve o cuidado de nos avisar.



Esperança e saudade, 1887, é para aqui chamada porque é também uma belíssima escultura e porque tem estória para contar.

A primeira referência que se encontra a esta obra é no catálogo da 14ª Exposição da Sociedade Promotora das Bellas Artes em Portugal, 1887 [7], onde se pode ler: «340 – Esperança e saudade – busto em mármore | Pertencente ao sr. W. J. Garland Junior.» [8]. Por isto, o gesso original deverá ser um pouco anterior. Acontece que o gesso conhecido não estará datado e ficamos sem saber [9].


    Que se conheça, de Esperança e saudade existe um gesso no acervo do Museu José Malhoa – o tal por estes dias exposto no museu de Figueiró dos Vinhos e que pode ou não ser o original – e um mármore – muito provavelmente o que foi do citado sr. Garland – actualmente na posse da Sociedade Nacional de Belas Artes [10].








O mármore é magnífico, de uma serenidade ímpar. Assente sobre uma base de fundo circular, em brecha polida de tons castanhos, encimada por um curto fuste octogonal que recebe a base do busto com semelhante geometria, forma um belo conjunto. Na base de mármore do busto, sob a direita do observador, a assinatura e a data - «Simões fez. 1887.» - coincidente com a 14ª Exposição da SPBA.

Mas voltemos ao gesso.



Pois parece ser do gesso – deste ou de outro – uma interessante fotografia tipo postal que Simões d’Almeida ofertou a Malhoa - «Ao Ex.mº amigo, o distincto pintor J.e Vital Branco Malhoa off.ce José Simões d’Almeida J.or» - lê-se na dedicatória. Sem data, não sabemos exactamente quando a oferta foi feita, mas tudo indica pelos meados da década de oitenta.

 Foi por esta altura, recordemos, que os antigos Mestre e discípulo(s) estreitam relações de amizade – o convite para a primeira ida até Figueiró dos Vinhos, a JMalhoa e MHPinto, em 1883; o quadro de Malhoa Atelier de esculptura, hoje no MASP intitulado O atelier do estatuário Simões d'Almeida, 1883; a galvanoplastia de Simões retratando o perfil de Malhoa, no acervo do MJM, pomposamente apelidada Mestre Malhoa, 1883, («Mestre»?! em 1883?! – há reverências que são como «as cartas de amor» - ridículas) - eis algumas das marcas desse estreitar de amizades [11]. A oferta da foto de Esperança e saudade deverá ter sido mais uma - mais ano, menos ano, por essa mesma altura. E, pelas marcas dos pioneses que a devem ter mantido presa nalguma parede do atelier, bastante estimada por Malhoa…
A foto é bastante curiosa. Para lá de nos revelar o gesso ainda imaculado – a patine bronzeada que agora apresenta, no caso de se tratar da mesma peça, foi tratamento muito posterior – mostra-nos também as íris dos olhos escurecidas, acentuando o olhar ausente e meio vesgo, note-se, da jovem rapariga. Talvez o maior encanto da Obra.


Ao certo, pouco mais se sabe.
Mas o facto deste gesso, agora mostrado em Figueiró, haver sido oferta de D. Mª José Malhoa e Silva (ou de alguém por ela, ou de ela por outrem) ao Museu das Caldas, pouco depois da morte do irmão [12], parece indicar que, para além da estimada foto, Malhoa também teria consigo o gesso de Esperança e saudade. Se o mesmo da fotografia, se original ou cópia, desde quando e em que circunstâncias – são perguntas para as quais não há resposta.

Mas sinal que Malhoa muito apreciaria esta bela Obra do seu antigo Mestre Simões d’Almeida. E com toda a razão.




1 Ago. 2013. LBG




[1] Querendo saber mais sobre este assunto, ver: XAVIER, Hugo - Galeria de Pintura no Real Paço da Ajuda. Lisboa: IN-CM, 2013.

[2] O Occidente, 1º ano, nº 15, 1 Ago.1878, p.116, 118 e 119.

[3] Em Paris, 1878, estiveram presentes Puberdade e D. Sebastião e J. Simões d’Almeida recebeu uma 3ª medalha, isto é certo. Agora, a qual das obras o prémio foi concedido é que já não há absoluta certeza, embora tudo indique que foi a Puberdade.
Logo no ano seguinte, O Occidente (nº30, 15 Mar.1879, p.41 e 46) noticia, com gravura na primeira página, que Puberdade «figurou na exposição universal de Paris, aonde foi premiada com a medalha de bronze». Sete anos depois, a mesma publicação (nº266, 11 Mai.1886, p.107), numa nota biográfica a propósito do Monumento aos Restauradores, confirma-o «A Poberdade, estatueta em gesso, premiada na exposição de Paris de 1878».
Mas vinte anos depois, o mesmo Caetano Alberto que terá escrito os artigos anteriores, de novo em O Occidente (nº 948, 30 Abr.1905, p.91) escreve de forma dúbia – não diz que Puberdade foi premiada, embora a cite logo depois de referir o prémio, e mais adiante diz de D. Sebastião «tambem premiada na exposição de Paris de 1878»… Mas vamos acreditar nas notícias mais frescas.

[4] A Escultura e Pintura de História eram encaradas com a maior seriedade e rigor – deveriam ser, para além de perfeitas Obras de Arte, uma Lição de História. Para tal, o estudo e a documentação quanto à época, trajes, personalidades, acontecimentos do episódio a registar ou personagem a retratar, eram normalmente exaustivos.

  Veja-se, no caso de JMalhoa, a completa Memória Descritiva impressa que acompanhou a concurso a Partida de Vasco da Gama para a Índia, 1888, (valeu o primeiro prémio). Veja-se o texto, citando Pinheiro Chagas, no catálogo do Grémio Artístico (1892), justificativo do Último Interrogatório do Marquês de Pombal, 1891, (de nada serviu, antes pelo contrário…). Entenda-se que Camões, 1907, o do Museu Militar, é como é (independentemente de quem alegadamente haja ou não servido de modelo) porque, entre outras coisas, Malhoa deverá ter lido um texto de 1550 que o refere assim: «Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria; escudeiro, de 25 anos, barbirruivo…». Veja-se, por fim e numa obra mais tardia, Raínha Dona Leonor, 1926, um apontamento colorido a guache feito por consulta do «Livro dos brazões | Torre do Tombo», o estudo do brasão que encima o trono da «molher» de D. João II. (Curiosamente, a versão final acabou bem diferente do estudo e do que parece ser o verdadeiro brasão da Raínha – Malhoa, que tinha na mão a chave certa, não se sabe porquê, resolveu pespegar-lhe com a Cruz de Avis e fez asneira.)

[5] DeLorean DMC-12, sobre o qual pode ver mais aqui.

[6] Este episódio foi fixado por variadíssimos artistas. Aqui numa litografia, «Brinde da Empreza do jornal “O Seculo” aos assignantes do “Romance d’uma Rapariga Pobre”», sob desenho de António Ramalho (1859-1916) - Camões lendo os Lusiadas a D. Sebastião - disponível na BNP. A. Ramalho júnior - algumas vezes acusado de «preguiçoso», nunca de «burro» - mostra-nos Camões declamando o poema épico , ainda em manuscrito, com a serra de Sintra ao fundo, a um jovem mas já meio barbado monarca… Como reza a História.

[7] O catálogo dá-nos informação preciosa quanto aos galardões de Simões até aquela altura: «SIMÕES D’ALMEIDA JUNIOR (José) | Medalhas de 2ª classe da Sociedade Promotora das Bellas-Artes em 1866 [?], 1872 [O orphão] e 1874 [D. Sebastião]. Medalha de 3ª classe na exposição Universal de Pariz 1878 [Puberdade - ver nota 3].»

[8] No mesmo catálogo, ainda nas obras de Simões d’Almeida, podemos ler: «347 - Retratos da familia Garland – seis medalhões reproduzidos em galvanoplastica por Francisco Baptista dos Santos.» Sinal que a venda do mármore de Esperança e saudade e a modelação dos seis originais em gesso para a feitura das galvanoplastias foi negócio por atacado com o sr. Garland.

[9] Nestas coisas das esculturas, nunca se sabe muito bem se «primeiro foi o ovo ou a galinha»… Normalmente - e esqueçamos aqui esboços, estudos e maquetas – o gesso ou o barro antecedem sempre a pedra ou o metal. Mas nada nos diz que não haja novos gessos (ou barros) posteriores, e em mais que uma reprodução. Por outo lado, se a obra foi datada no modelo original, assim aparece na reprodução por fundição (às vezes acompanhada discretamente de nova data e marca do fundidor); já na passagem à pedra, se feita sob as mãos ou direcção do autor, este assina e data por norma no final do esculpir. (Embora também possa ser de outro modo qualquer…)

[10] Assinalado por Cristina Azevedo Tavares in A Escola Naturalista de Figueiró: Exposição de Escultura e Pintura. Figueiró dos Vinhos: Câmara Municipal. 2004.

[11] Assunto já referido por Matilde Tomaz do Couto in A Escola Naturalista de Figueiró: Exposição de Escultura e Pintura. Figueiró dos Vinhos: Câmara Municipal. 2004.
Referido também por Luís Borges da Gama in A Duas Mãos | Desenhos Inéditos: Manuel Henrique Pinto (1853-1912) e José Malhoa (1855-1933): Pelo Centenário da morte de Manuel Henrique Pinto. Figueiró do Vinhos: Clube Figueiroense: Município de FV. 2012. p.15.
Ou ainda aqui.

[12] Ver: SANTOS, Doris; COUTO, Matilde Tomaz do - Liga dos Amigos do Museu José Malhoa: Como nasce um museu. Caldas da Raínha: Liga dos Amigos do Museu José Malhoa. 2013.