Neutel Martins Simões d’Abreu (Figº dos Vinhos, 1871-1945), Oficial de Infantaria do Exército
Português – Major; apelidado pelos nativos do norte de Moçambique como «Mahon»; nasceu faz hoje 142 anos.
Neutel d’Abreu
com a farda colonial de Capitão.
Quadro a
óleo, provavelmente pintado em África por autor anónimo, oferta da Família do
retratado ao Município de Figº dos Vinhos.
(foto
reenquadrada e retocada)
Nasceu na Várzea Redonda em 3 de Dezembro de 1871. Filho de Domingos António Simões e Mª das Dores Martins
Ferreira de Abreu.
Aos dezassete anos, a 15 de Junho de 1889, assentou praça
como voluntário no Exército. Em 1890 partiu para Macau. Sendo posteriormente
(1891) colocado em Angola, Moçâmedes, onde se envolve em campanhas militares,
após o que regressa à metrópole.
Aos vinte e cinco anos de idade (1896), com a patente de
Sargento, é colocado em São Tomé e Príncipe e, de seguida, volta a Angola onde por motivo de doença (biliosa) é obrigado a regressar mais uma vez à
metrópole.
Em 1898 é colocado em Moçambique mas, vitimado de novo pela biliosa, retorna à metrópole. No ano seguinte, já restabelecido, volta em
definitivo àquele território, onde acabou por viver as três décadas subsequentes.
Em 20 de Julho de 1900 encontra-se como Comandante do Posto
Militar do Mogincual e com o raio de acção limitado à área do forte, pois ali
acabava a soberania portuguesa - já que, mal se transpusesse os portões do
mesmo, choviam as flechas e os tiros dos nativos rebeldes. Disposto a acabar
com este estado de coisas e «imbuído no espírito de Mouzinho de Albuquerque
que sempre admirou», lança-se a fustigar os rebeldes acabando por dominar
toda a região e desimpedindo as parcas vias de circulação, nos três anos
seguintes. Em 1901 atinge o patamar do oficialato, como Alferes.
Envolveu-se nas operações de restabelecimento da soberania
portuguesa na zona de Angoche, combatendo as forças de Farelay, em 1903. No ano
seguinte é promovido a Tenente. Já nessa altura Neutel d'Abreu tinha sido
diversas vezes louvado e condecorado, sendo-lhe reconhecido sempre actos de
bravura. Continua a sua actividade militar integrando as colunas que derrotam o
Xeque Mamude Amade, o Régulo de Matibane e Quitangonha, e, posteriormente,
o Régulo Napipi, na zona de Quinga, em 1904.
Conhecedor dos costumes africanos, apesar da sua postura de
militar e colonial, fez em Janeiro de 1907 um pacto de sangue com Mucapera,
Régulo macua de Corrane, facto inédito nos anais da história militar portuguesa
em solo moçambicano. Tal permitiu-lhe arregimentar, sempre que precisava,
centenas de homens do regulado para as várias funções secundárias que as suas
campanhas militares careciam, tais como carregadores, combatentes de segunda
linha e pisteiros. Sobre este pacto escreveu Neutel d'Abreu:
«Este
acto parecerá à primeira vista fantochada, sobretudo para aqueles que não
conhecem os usos e costumes dos indígenas. O que é certo é que este acto deu
maravilhosos resultados no decorrer da ocupação do Distrito, quer poupando
muitos contos de réis ao Estado, quer poupando vidas de soldados, porque,
considerando-me o régulo seu irmão mais velho depois da nossa aliança, nunca
mais se recusou a fornecer os homens armados que eu lhe pedia, não só centos
deles mas até milhares. Estes homens fornecidos pelo régulo Mucapera prestaram
sempre relevantes serviços em todas as campanhas em que tomaram parte, quase
todas as do Distrito e até contra os alemães do Niassa».
É nomeado em 1909 Capitão-Mor da Macuana, sedeado no
Itoculo, depois de ter soberanizado Nampula (1907) e penetrado, em viagem de
reconhecimento, até ao Alto Ligonha, no Distrito de Quelimane. Isto, a par da
subjugação dos regulados de Ribaué (30 de Abril de 1908) e Murrupula (1909),
permitiu uma melhor interligação e conhecimento de vastas regiões ignoradas do
sul e oeste daquele Distrito de Moçambique.
Em 1910, integrado nas operações militares de pacificação do
Sultanato de Angoche, trava vários combates contra as forças aliadas a Farelay
e Cobula. Após a campanha de Angoche volta as suas atenções para oeste e, a
partir de Ribaué, estende a sua acção militar a Malema (1912) e Mutuáli (1913),
entre outros povoados, travando combates contra régulos insubmissos, para além
de proceder à abertura de estradas e montagens de postos telegráficos.
Em 1916 serviu, como Capitão e no decurso da Primeira Guerra Mundial,
as forças do Coronel Sousa Rosa e, em 1917, trava vários combates contra forças
rebeldes macondes, nomeadamente em Nacature. Com o findar da Grande Guerra
ganha as divisas de Major (1918). Dois anos depois a Junta Geral de Saúde
declara-o incapaz de continuar serviço, passando à reforma nesse mesmo ano. Tinha
então 49 anos.
Dedica-se à agricultura e, no exercício da sua
actividade como colono, promoveu a exploração de palmares no Mogincual. No
entanto a sua actividade empresarial não foi tão brilhante quanto a de militar.
Falido e doente, é através de ajudas financeiras de amigos que regressa à
metrópole em 1930, acabando por não mais voltar a Moçambique. Isto apesar de
ter sido convidado a acompanhar o Presidente da República Óscar Carmona na
viagem que este efectuou ao território em 1939, e que teve de recusar por
motivos de saúde.
Neutel d’Abreu apresenta ao longo da sua vida de militar e colonial um invejável palmarés de 13 louvores e 11 medalhas, entre as quais a de Comendador da Ordem da Torre e Espada.
Alvo de Homenagem Nacional, em sessão solene realizada na Sociedade de Geografia, em 29 de Junho de 1941. Uma das últimas consagrações públicas tem lugar no 28 de Maio de 1943, na Praça do Império em Lisboa, quando recebe a derradeira condecoração.
Morre dois anos mais tarde, a 8 de Dezembro de 1945, na sua
terra natal, poucos dias após completar os 74 anos de idade. «Entra em
definitivo na História o mítico “Mahon”, por muitos considerado o grande
conquistador do norte de Moçambique».
Cartão de
Visita autógrafo de Neutel d’Abreu,
agradecendo as
«palavras de bom amigo» por ocasião «da homenagem que lhe foi prestada», com
votos de «saúde e… venturas»
(c.1941,
frente e verso)
3 Dez. 2013. LBG
Texto
transcrito, com adaptações e complementos posteriores, de satanhoco.blogspot.pt
O original pode ser consultado aqui
Procurava Malhoa e encontrei o seu blog, gostei muito e tenho pena que não continue a escrever...
ResponderEliminarGosto que tenha gostado. E agradeço.
EliminarComo dizia lá em cima «... conforme me der na gana» - e, por agora, não vai dando...
Espero que retorne, entretanto vou às Caldas visitar o museu de Malhoa que não conheço.
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