sábado, 16 de fevereiro de 2019

Inundações na Ribeira de Santarém

Malhoa, a trabalho precário, em 1881

«Restituído à pintura, desencaixeirado, teve Malhoa de abrir dois caminhos: o da arte, tentador, e o da vida, bastante áspero. O primeiro dinheiro que ganhou, como artista, foram quinze tostões, por passar vários dias a desenhar à pena, para um canteiro, ou coisa parecida, a pia baptismal da Igreja da Estrêla. Por dez desenhos para O Ocidente, representando as inundações do Vale-de-Santarém, deram-lhe cinco mil réis.»

Assim terá sido dito por Manoel de Sousa Pinto, na Conferência inaugural da grande exposição de Homenagem a Malhoa, na SNBA, em 16 Jun. 1928.
Depois, esta história dos desenhos das Inundações será repetida por quase toda a gente…
Em 1996, Paulo Henriques complementaria mesmo: «Ausente ainda a imagem fotográfica das publicações periódicas, José Malhoa cumpriu assim a actual função do repórter fotográfico e registou com a mais próxima verdade o desastre natural que constituía a notícia».

Pois sim! Mas, e a notícia? E os desenhos? Já alguém os mostrou? Já o leitor alguma vez os viu?
Posso andar distraído, não ter visto tudo, mas não me lembro de alguma vez ter visto tal… Até, por mero acaso, um destes dias, ter esbarrado com eles.

É isso que, agora, se compartilha com o amigo leitor. Os desenhos de Malhoa e a nota de O Occidente publicados, fez 138 anos, a 11 de Fevereiro de 1881.










E, um mês depois, a 21 Mar., mais este. Que já não mete água e, por isso, pôde esperar mais uns dias. Mas que será, com quase toda a certeza, da mesma colheita. E vão cinco! Fica a faltar a outra alegada metade...


Também da mesma safra ribatejana de 1881, será esta pequena tábua (13x22), já mais conhecida, actualmente no espólio da Casa Museu Anastácio Gonçalves, comprada pelo coleccionador em 1948, mas que, ao que parece, terá sido oferecida por Malhoa a Simões d’Almeida. O óleo s/ madeira Inundação da Ribeira de Santarém tem escrito nas costas: «Ao meu mestre e amigo Illmo. Snr. J. Simões d’Almeida | off. J. Malhoa».


E, por hoje, chega de água. A ver se amanhã também não chove…


16 Fev.2019. LBG.