quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ao jeito de adenda,

sobre dois quadros já aqui referidos.


«Aprender, aprender sempre…» recomendava o velho Vladimiro. Como caíu em desgraça, isto anda esquecido. Além de se aprender pouco, parece que há vergonha em admitir que se não sabe… Pois bem, é sempre altura de aprender mais qualquer coisinha e de emendar a mão se asneira dissemos.
O caso não é de asneira, mas faltou alguma coisa. Emendemos pois a mão.

Ontem, a despropósito, saltaram duas fotografias do caixote. Da época, sumidas, uma delas anotada presumivelmente pela mão do Malhoa. De boa colheita, posso garantir. Como não eram o que procurava, iam de novo abeberar, quando se fez luz! - tinham a ver com dois escritos recentes e haviam feito falta. Por isso aqui ficam.


A primeira é a foto de O Soalheiro, 1904. Pequena, demasiado sumida pelo tempo – tem seguramente mais de um século. E, não acrescentando muito ao que já foi dito, serve, pelo menos, para dar um fim feliz à novela.
Prova que aquele quadro há dois meses referido e mostrado numa foto de fraca resolução tirada da net, sempre existiu e não é de «fábrica coberta» - ao contrário de outros que surdem não se sabe muito bem d’onde…  E, apesar da fraca qualidade de ambas as reproduções, não haverá alguém que não admita estar perante o mesmo quadro. Quanto a ser ou não O Soalheiro, o anteriormente escrito diz quanto basta.


A segunda fotografia é de umas Cebolas. E há duas fotos – uma mais pequena e esta em tamanho postal. Assinalada no verso, a lápis, «as cebôllas» e posteriormente riscado «as», e por outra mão emendado «Embaraçando» - o que deve ser asneira…

Na verdade sabe-se muito bem o que é Embraçar cebolas, 1896 – quadro repetidamente reproduzido. Como também se sabe o que é As Cebolas Vermelhas, 1908 – Oignons Rouges, no Salon de 1909, Cebollas Rojas, em Buenos Aires, 1910, quadro reproduzido no respectivo catálogo - e não, não foram a Santiago do Chile ! (apesar de…, e a crer no catálogo).
Portanto, estas Cebolas não são seguramente nenhuma das referidas.


Ora, no artiguinho sobre a "Exposição Guilherme Rosa" no Rio de Janeiro 1902, faço referência, na nota [11], a um outro artigo de jornal que descreve umas Cebolas e refiro também que na 1ª Exposição da SNBA, 1901, Malhoa apresentou um quadro com tal título.
Vejamos então melhor o que nos diz o anónimo articulista de 1902: «”As cebolas” é outro trabalho magnífico, em que, além da impeccabilidade das figuras das “ceboleiras”, há o estudo da paizagem, que é delicioso». Serve.
A crer nesta fonte, percebemos que o quadro levado e vendido por Rosa no Rio em 1902, representa umas «ceboleiras» e uma deliciosa paisagem.
Olhando para o que é possível ver nesta fotografia, admite-se que tal descrição a este se aplique. Note-se, por outro lado, uma certa semelhança compositiva entre a figura da principal ceboleira e a lavadeira de A corar a roupa, c.1899, outro dos quadros dessa mostra, hoje no MNBA do Rio.

Por fim, olhe-se com cuidado para a «Foto do atelier de Malhoa em Campo de Ourique, cerca de 1901» que acompanha aquele artigo – se o quadro, meio encoberto pela cadeira austríaca, por baixo de A corar a roupa e ao lado de Gozando os rendimentos, prontinhos para ir para o Rio, não é este… macacos me mordam!
Parece pois, salvo mais douta opinião, que aqui temos Cebolas, c. 1900, o quadro da 1ª Exposição da SNBA e o que Guilherme Rosa vendeu no Brasil em 1902.

E peço desculpa por não ser uma «Paisagem».


5 Set. 2012. LBG.

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu comentário, contributo ou discordância é sempre benvindo. Será publicado logo que possível, depois de moderado pelo administrador. Como compreenderá, não publicaremos parvoíces... Muito obrigado.