«Aprender,
aprender sempre…» recomendava o velho Vladimiro. Como caíu em desgraça, isto
anda esquecido. Além de se aprender pouco, parece que há vergonha em admitir
que se não sabe… Pois bem, é sempre altura de aprender mais qualquer coisinha e
de emendar a mão se asneira dissemos.
O
caso não é de asneira, mas faltou alguma coisa. Emendemos pois a mão.
Ontem,
a despropósito, saltaram duas fotografias do caixote. Da época, sumidas, uma
delas anotada presumivelmente pela mão do Malhoa. De boa colheita, posso
garantir. Como não eram o que procurava, iam de novo abeberar, quando se fez
luz! - tinham a ver com dois escritos recentes e haviam feito falta. Por isso
aqui ficam.
A
primeira é a foto de O Soalheiro, 1904. Pequena, demasiado sumida pelo tempo – tem seguramente mais de um século.
E, não acrescentando muito ao que já foi dito, serve, pelo menos, para dar um
fim feliz à novela.
Prova
que aquele quadro há dois meses referido e mostrado numa foto de fraca
resolução tirada da net, sempre existiu e não é de «fábrica coberta» - ao
contrário de outros que surdem não se sabe muito bem d’onde… E,
apesar da fraca qualidade de ambas as reproduções, não haverá alguém que não
admita estar perante o mesmo quadro. Quanto a ser ou não O Soalheiro, o anteriormente escrito diz quanto basta.
A
segunda fotografia é de umas Cebolas.
E há duas fotos – uma mais pequena e esta em tamanho postal. Assinalada no
verso, a lápis, «as cebôllas» e posteriormente riscado «as», e por outra mão emendado «Embaraçando»
- o que deve ser asneira…
Na
verdade sabe-se muito bem o que é Embraçar
cebolas, 1896 – quadro repetidamente reproduzido. Como também se sabe o que
é As Cebolas Vermelhas, 1908 – Oignons Rouges, no Salon de 1909, Cebollas Rojas, em Buenos Aires, 1910, quadro
reproduzido no respectivo catálogo - e não, não foram a Santiago do Chile !
(apesar de…, e a crer no catálogo).
Portanto,
estas Cebolas não são seguramente nenhuma das
referidas.
Ora,
no artiguinho sobre a "Exposição Guilherme Rosa" no Rio de Janeiro 1902, faço
referência, na nota [11], a um outro artigo de jornal que descreve umas Cebolas e refiro também que na 1ª
Exposição da SNBA, 1901, Malhoa apresentou um quadro com tal título.
Vejamos então
melhor o que nos diz o anónimo articulista de 1902: «”As cebolas” é outro
trabalho magnífico, em que, além da impeccabilidade das figuras das “ceboleiras”,
há o estudo da paizagem, que é delicioso». Serve.
A
crer nesta fonte, percebemos que o quadro levado e vendido por Rosa no Rio em
1902, representa umas «ceboleiras» e uma deliciosa paisagem.
Olhando
para o que é possível ver nesta fotografia, admite-se que tal descrição a este
se aplique. Note-se, por outro lado, uma certa semelhança compositiva entre a figura
da principal ceboleira e a lavadeira de A
corar a roupa, c.1899, outro dos quadros dessa mostra, hoje no MNBA do Rio.
Por
fim, olhe-se com cuidado para a «Foto do atelier de Malhoa em Campo de Ourique, cerca de 1901» que acompanha aquele artigo – se o quadro, meio encoberto pela cadeira
austríaca, por baixo de A corar a roupa
e ao lado de Gozando os rendimentos,
prontinhos para ir para o Rio, não é este… macacos me mordam!
Parece pois, salvo mais douta opinião, que aqui temos Cebolas, c. 1900, o quadro da 1ª
Exposição da SNBA e o que Guilherme Rosa vendeu no Brasil em 1902.
E peço desculpa por não ser uma «Paisagem».
5 Set. 2012. LBG.
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