JMalhoa. Estudo
de Nu.
csp 63x48 a.|n.d.
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A
DUAS MÃOS | DESENHOS INÉDITOS de Manuel Henrique Pinto (1853-1912) e José
Malhoa (1855-1933) é uma escolha que surgiu a propósito do Centenário da
morte do primeiro destes dois artistas, dois amigos, dois companheiros de toda
uma vida. A exposição, acompanhada da edição do correspondente catálogo, foi
mostrada inicialmente em Setembro de 2012 em Figueiró dos Vinhos - terra
que os dois pintores tomaram como sua e dos seus pincéis, e onde ambos
acabariam por morrer, um duas décadas depois do outro.
MHPinto. Estudo
para
Esfolhando o milho.
c.1907. csp
61x48 n.a.|n.d.
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Logo se pensou em trazê-la também a esta outra casa de Malhoa – o Museu José Malhoa nas Caldas da Raínha. Com enorme gosto, aos desenhos antes revelados, juntam-se agora mais alguns bem significativos – desde logo um peculiar e algo misterioso Estudo de Nu, sem data e assinado por Malhoa; um Estudo para Esfolhando o milho, de Pinto, uma versão não concretizada na tela, de algum modo malhoesca, como que torcendo a roupa; e, finalmente, um Estudo para O pífaro novo, certamente de Pinto, mas que, sem muito favor, podia também ser um estudo do outro para uma qualquer tela de pastorinhos figueiroenses…
MHPinto.
[ A Velha das Papas ]. c.1897.
csp 38,5x29 a.|n.d.
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A
DUAS MÃOS | DESENHOS INÉDITOS reúne e põe em diálogo um
interessante conjunto de desenhos dos dois artistas - boa parte deles, há
muitas décadas, guardados juntos numa mesma pasta – e que algumas vezes nos
confundem e se confundem. Como a dramática cabeça de [A Velha das Papas], as do
Malhoa, que a assinatura mostra que é do outro; ou as várias raparigas
namoradeiras que se tiram pela pinta ou por algum sinal mais escondido. O mesmo
com [O
Homem do Leme] de Henrique Pinto, embora aqui as outras mãos sejam as de João Vaz (1859-1931), outro amigo comum,
companheiro de sempre e do Grupo do Leão.
MHPinto.
[ O Homem do Leme ]. c.1912.
ssp 47x31 a.|n.d.
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Os desenhos agora mostrados correspondem,
quase no essencial, ao período compreendido entre a conjunta descoberta de
Figueiró, em 1883, a chamamento de Simões d’Almeida (1844-1926) - «uma
influência enorme no desenho» [1] dirá Malhoa a propósito
deste mestre e amigo, também por ambos partilhado - e a morte prematura de
Manuel Henrique Pinto, em 1912. Um longo período de três décadas, onde mais se
acentuou a amizade e o trabalho em comum.
JMalhoa. [ Noiva ]. 1887.
csp 41x35.
a.|d.
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E é de aproveitar o podermos estar agora no Museu José Malhoa, para irmos à descoberta de algumas obras a que estes desenhos nos remetem.
MHPinto.
A caça dos taralhões, estudo. c.1891.
csp 37x52 n.a.|n.d.
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Olhemos bem o rapazito atento de A
caça dos taralhões, c.1891; é o mesmo que na tela está Gritando ao Rebanho, 1891, pintado por
Malhoa, também com uma costela à ilharga; ou o que aguenta a cabra em Uma Teima, 1894, (agora A Perrice) do Pinto – ele ou um dos
irmãos, mas de certeza um dos «filho(s) do Eduardo, então rendeiro da Fonte do
Cordeiro», modelos de tantas e tantas telas.
JMalhoa.
Descanso, estudo. c.1894.
csp 62x47 a.|n.d.
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E esta jovem mulher que descansa despida
sobre o escadote de pose? Assim, tal qual, em Descanso, c.1894, está
longe, em S. Paulo; mas na sala grande do Museu, aquecendo-se Antes da sessão, 1894, (agora Descanso do Modelo) podemos vê-la de pé,
junto ao mesmo reposteiro verde – reconheceis a anatomia?!
MHPinto.
Dar de comer aos que têm fome, estudo.
c.1902. csp 45,5x55 n.a.|n.d.
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Reparemos agora no enérgico estudo de Pinto
para Dar
de comer aos que têm fome, 1902; ora, na outra ponta do Museu, lá
encontraremos o quadro, depois chamado O Almoço - daqui para lá a mulher passou a usar chapéu; e foi com o mesmo
chapéu que Malhoa também a pintou noutros dois quadros, mas para os ver é
preciso ir a Alpiarça ou ao Rio de Janeiro…
JMalhoa.
[ O Bêbado ] estudo para A procissão.
1901. csp 47x31 a.|d.
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Atentemos neste magnífico retrato de [O
Bêbado] - um dos primeiros deste modelo de Malhoa, e modelo de muitas
telas; num desenho quase contemporâneo deste, com o mesmo casaco à banda,
também está no Museu; mas já não o poderemos ver numa das suas maiores
representações (esteve, já não está); no entanto, um pouco mais sóbrio, podemos
encontrá-lo Lendo o Jornal, 1905; e, logo
ao lado, de novo tão perdido de bêbado que nem o grito da filha escuta – Basta, Meu Pai! – também o
reencontraremos.
JMalhoa. [ Namoro fantasma ].
csp 31x24
a.|n.d.
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E as raparigas que sofrem de amores? Estas ou outras parecidas hão-de por lá andar - vamos à sua procura…
E, com olhos de ver, de toda a pintura e de todos estes desenhos. Estes e outros tantos. Que são uns belos desenhos. De dois grandes pintores.
No Museu José Malhoa, nas Caldas da Raínha,
até 14 de Julho.
21 Mai. 2013. LBG
[1] Carta de Malhoa a Humberto Plágio, citada por este in José Malhôa (Pintor). Lisboa, 1928. p.26.
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