(ou pode ser
lá mais p’ra Maio…)
Passa hoje mais um aniversário do nascimento de José Malhoa.
Em todos os lugares onde se segue o calendário gregoriano é
hoje que se assinala a data do nascimento do Pintor, 28 de Abril de 1855.
Em todos? Bem, em todos não! Há um pequeno local meio ignorado
(qual aldeia de Astérix) que teima em assinalar de modo diferente… ou, pelo
menos, assim parece. E desde 1955, ano do 1º Centenário do Artista.
Na verdade, numa pequena rua, a antiga Travessa de S.
Sebastião, rebaptizada posteriormente Rua da Nazaré, na parede da casa onde
Malhoa terá nascido, até há pouco uma pensão-restaurante, nas Caldas da Rainha,
está uma placa que reza singelamente: «1855 – 1955 | 15
de Maio | 1º Centenário».
Assim, tal qual!
Acima desta placa, uma outra, de semelhante desenho mas
orlada de azulejos, é mais explícita: «Casa onde nasceu |
o Grande Pintor | José Malhôa | Homenagem dos Caldenses».
Perante isto, qualquer menos avisado que pensará? Que a data
da placa do dito «Centenário» se refere ao nascimento do Artista - como parece
evidente. Ou então que, por algum sortilégio, ali na Rua da Nazaré nas Caldas da
Rainha, nos regeremos por um outro calendário… (assim, a modos como quando se
assinala a Revolução de Outubro a 7 de Novembro)
A placa superior é mais antiga. Foi lá posta ainda em vida de
Malhoa, e disso dá conta a Gazeta das Caldas [1]: «Nascido na
R. da Nazaré, próximo da egreja de S. Sebastião, foi colocada ha anos, na casa
onde nasceu, uma lapide com os seguintes dizeres: “Casa onde nasceu o Grande
Pintôr José Malhôa. Homenagem dos caldenses”». E prossegue: «Muito antes
d’isso já a Camara Municipal das Caldas, tinha dado o nome do ilustre pintor a
uma das suas ruas, e ao largo que fica em frente daquela egreja. (…)».
Ficamos sem saber exactamente quanto significa «há anos» ou
quando foi «muito antes d’isso». Mas não duvidamos que tal tenha sucedido,
afinal, não muito antes desta mesma notícia, aí pelo período em que se promoveu
a reaproximação entre Malhoa e a terra que o viu nascer. No fundo, entre «o pedido
(…) dirigido a José Malhoa em Dezembro de 1924, para que pintasse uma tela para
ser colocada na Sala das Sessões da Associação [Comercial e Industrial]» [2] e a
oferta do quadro da «Rainha D. Leonor», 1926, «ao Povo das Caldas», em
sessão realizada com a presença do Pintor em 12 de Julho de 1926 [3]. Algures por
esta altura ou um pouco antes, a alteração toponímica das artérias e a placa localizando
o berço malhoesco terão feito parte do justo reconhecimento e demais apaparicos
da praxe…
Certo, certo, é que em 10 de Setembro de 1928, na Homenagem
caldense sequencial à grande Homenagem nacional de Junho, Malhoa se deixa
fotografar frente à casa onde nasceu. Na foto, publicada na Gazeta das
Caldas [4], é visível a tal placa inicial, ainda sem a orla azulejar.
O dito jornal refere: «Mestre
Malhôa, sempre alegre e sorridente, vendo-se bem vincada na sua pessoa a
alegria que sentia com esta sincera manifestação, dirigindo-se junto da casa
onde nasceu, na Travessa da Nazareth [anteriormente também referida como
Rua], onde numa das paredes existe uma lapide comemorativa do seu
nascimento; e recordando o tempo da sua infancia, por ali andou de recordação
em recordação, acolhido sempre com o maior dos carinhos e atenções.»
Portanto, até aqui, tudo normal.
Depois, não se sabe por que carga de água, em 1955, o ano do
Centenário do nascimento de Malhoa, terá surdido a tal outra placa assinalando a
suposta efeméride. Alguma alma atenta, veneradora e obrigada –
como eram então todas as boas almas – e, além disso, aspergida de muita
água-benta da pia baptismal da Senhora do Pópulo, assim determinou.
E a placa lá está proclamando aos passantes, não o suposto
centenário do nascimento do Pintor, mas, caso raro e nunca visto, o centenário
do seu baptismo. No fundo, o do seu nascimento para a Santa Madre Igreja
Católica Apostólica e Romana.
Como diria o saudoso (e que saudades, Jesus!, por lá terá
deixado…) José Maria Pedroto: «Assim, também está certo!».
Na verdade, foi a 15 de Maio de 1855 que o pequeno José foi baptizado
na igreja da sua freguesia. A crónica da função é-nos dada pelo Revº. Prior, escrita
logo na altura:
Mas nada disto é novidade! Como o não era em 1955.
Já antes, aqui mesmo, citámos quem o também escreveu. Como, em
1950, mais ou menos nos mesmos termos, já Montez o havia feito [5]. E tal como o
próprio Malhoa o subescrevera no preâmbulo do seu testamento, firmado em
Figueiró, em 1930:
Como, ainda, a Cédula Pessoal de Malhoa, emitida em 1924, o
confirma. Apenas na parte civil, obviamente:
Assim, e está visto, é mesmo hoje, 28 de Abril, o dia de
aniversário de Malhoa.
Por isso, como hoje ele é menino, e era bom um pândego, um folgazão, ei-lo aqui, a cavalo num pau! Em alegre brincadeira, todo contente! [6]
Quem sabe se zombando de toda esta gente que teima em levar a coisa demasiado a sério… e, volta e meia, lá asneira…
Pois muitos Parabéns!
28 Abr. 2016. LBG
_______________________________________
[1]. Gazeta
das Caldas, nº 126, de 17 Jun. 1928.
[2]. Doris
Santos, in Liga dos Amigos do Museu José Malhoa. Como nasce um museu.
Caldas da Rainha, 2013. p.28.
[3]. A crer
na Gazeta das Caldas, nº 41, de 18 Jul. 1926. A escritura seria
lavrada no dia seguinte, 13 Jul. 1926.
[4]. Gazeta
das Caldas, nº 140, de 23 Set. 1928.
[5]. António
Montez, in Malhoa Íntimo. Caldas da Rainha, 1950. p.20 (o nº de pág.
refere-se à 2ª edição, 1983). No seu escrito Montez omite a data do
nascimento, usando genericamente «na Primavera de 1855», o resto é mais ou menos referido.
[6]. A foto, inédita, tudo indica será anterior a 1910. E o gordinho, o que segura o guarda-sol, não
faço a mínima ideia quem seja…
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