(a
ver se os crescidos entendem…)
Neste Dia Internacional da Criança deixo-vos com o meu amigo
Figueiredo, o Esquilo Figueiredo. O Figueiredo é, como o nome indica, um
esquilo de Figueiró. Um Sciurus Vulgaris, de Linnaeus, um velho conhecido, um simpático
bicho.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyIb3RGhr1nR0yM6P_u4MfpjozNnAQ_7tYS5eLzjAosR9zf470oxaY-ZVV-s1xZShgb1hO8byVNQtwG-uT49DdzVvb6IOgnzittprK7ecvpfufLMP5rvbQFdBIrTuvoVowH8TGpe34aM4/s200/esc555.jpg)
Quando por lá estou e está tudo sossegado, quando não anda
por lá o gato da Mena ou o canito da Dona Adélia, volta e meia lá me aparece.
Empoleira-se numa ramada, olha para mim, eu olho para ele, e ficamos horas a
conversar. É um bicho esperto. Sabe-a toda!
Mas é bastante reservado, e gosta pouco de trapalhices.
Assustadiço. Se algo o incomoda, se alguém se arma em parvo, a coisa não corre
bem, desaparece num pulo, trepa à copa mais alta dum pinheiro ou dum cedro
grande e nunca mais ninguém o vê. Pelo menos durante uns tempos, até lhe
passar…
Gosta muito de pinhas, mas também de respeito e da boa educação. É
assim.
Apesar do aparente mau feitio, é uma jóia de bicho, um animal
prestável. Bem conversado e longe de confusões, faz tudo o que se lhe pede. E
certinho. Só não faz mais se não puder.
Outro dia, por um acaso, encontrei uns amigos meus às voltas
com um folheto para os meninos das escolas de Figueiró. A ideia era boa, as
ilustrações muito engraçadas, faltava uma história com pés e cabeça. Lembrei-me do
Figueiredo. E ele tratou do assunto.
Basicamente aqui vão a conversa e os desenhos do Figueiredo feitos
especialmente para os meninos de Figueiró. Agora em versão completa, antes de
condensada para caber no papel. Que quando começa, e custa a começar, depois é
difícil pará-lo.
Como parece que a outra custa a sair, lá por coisas, esta nossa versão vai
com outros retratos de outros fotógrafos. – «É pena, pá! Gosto
mesmo dos bonecos da Ana… Mas se se entretêm a engonhar, mete aí outra coisa qualquer.
Enleios é que eu não quero!» – avisou-me logo o bicho. Portanto, os bonecos ficam para
outra vez.
E fiquem com o Figueiredo.
Eram
uma vez (em Figueiró) quatro artistas:
José
Simões d’Almeida júnior, escultor.
Nasceu
em Figueiró dos Vinhos, a 24 de Abril de 1844, e
morreu na Amadora em 13 de Dezembro de 1926.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQ5lFgwsC3nK8aunssoVcrYWqjVyaM-H0CH2YeTa-wNH4h4Ev_PkqxG65NlY10oLfhGMJfGtv48Tb9LQnrKeTSRBKuAqccA78TPprhD5nyIfN69EQQpFBox4fDbT8cJq4ypAxTAlozr4c/s640/JSAj1892Camoes%252Ctt.jpg)
É do
seu cinzel este mármore de «Luís de Camões», 1892, escultura que o
Artista ofereceu ao «Clube Figueiroense» e que agora podemos ver no Museu.
Manuel
Henrique Pinto,
pintor.
Nasceu em
Cacilhas, em 15 de Março de 1853, e morreu
em 26 de Setembro de 1912, nas Lameiras, no fim
de mais um verão passado em Figueiró.
«A caça
dos taralhões», c.1891, é a primeira de uma série de pinturas,
umas feitas por ele e outras por Malhoa, que
retratam a vida e as brincadeiras de
uns meninos que viviam na quinta da Fonte do Cordeiro, em Figueiró. O quadro foi
logo comprado pelo Rei D. Carlos, chegou a ir a Berlim em 1896, mas depois não
se sabe onde foi parar… Por isso só o conhecemos de fotografia.
José
Malhoa,
pintor.
Nasceu
nas Caldas da Rainha, a 28 de Abril de 1855, e
morreu em Figueiró, no «Casulo», em 26 de Outubro de 1933.
«O Baptismo
de Cristo», 1904,
é um quadro que Malhoa fez de propósito para a Igreja Matriz de Figueiró.
Mostra o S. João Baptista a baptizar Jesus. Está à vista de todos lá na Igreja.
José
Simões d’Almeida
(sobº), escultor.
Nasceu em Figueiró, ao Cimo da Vila, em 17 de Junho de 1880, e morreu em Lisboa a 2 de Março de 1950.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhbnbmF2Px4H_RhKRVzFEnsgSlPOICDFkowy3pjHTlDsGKM1Kq87Kt69VtFWaNrI9PaXIDc_uXD-Z4qpm0rKUV3TIjVb_NJ9Tt3WfP4kp7Pbf6e4392ztQU_P-D9MEGIfHX40kFKrZkeo/s400/JSAs%25C2%25BA1908Repub.CMFVtt.jpg)
O «Busto da República», 1908, foi modelado ainda durante a monarquia para a Câmara de Lisboa que era já republicana.
Este, que podemos ver no Museu, é talvez o
gesso original que Simões, mais tarde, ofereceu à sua terra.
M. Henrique Pinto e José Malhoa encontraram-se ainda rapazes na Academia das Belas Artes e
ficaram amigos para a vida. Depois, já homens feitos, andavam muitas vezes juntos
a pintar paisagens lá pelas terras à volta de Lisboa. Com cavaletes, telas,
caixas das tintas, farnel, tudo de um lado para o outro.
Um dia, Simões d’Almeida (o tio), que era de Figueiró e tinha sido professor de Desenho de ambos,
disse-lhes mais ou menos assim: - «Deixem-se de andar por aí com a tralha às
costas, e vão mas é para a minha terra que têm lá muito que pintar!...». E
eles vieram.
Isto foi no ano de 1883, vai
para mais de cento e tal…
Gostaram tanto disto, que
passaram a vir todos, mas todos os verões.
Logo, logo o Manuel Henrique se
apaixona por uma moça de cá, uma prima do Simões d'Almeida (o tio) chamada Maria
da Conceição, e dois anos depois casa com ela. Foram padrinhos o amigo Malhoa e
a Júlia, a mulher deste. Foi a 3 de Agosto, na Igreja de S. João Baptista.
O «Zézito» Simões – era assim
que lhe chamavam - tinha então cinco anos, e para além de ser sobrinho e
afilhado do Simões (do tio) era também sobrinho e afilhado da Mª da Conceição. Por
isso passou a chamar ao Manuel Henrique - «o tio Pinto». Parece complicado, mas
não é.
(Isto pode até parecer Quadrilhice
Analítica, que é uma disciplina da História da Arte onde, quando pouco ou nada se tem para dizer, se justifica tudo com umas propaladas e intrincadas amizades
e outras intimidades entre os personagens, alguns que nem para ali são chamados, e se referem uns locais ou viagens que juntos fizeram, mesmo que,
às vezes, as datas não batam lá muito certo…
Pode ser parecido, mas não é! Isto é tudo verdadinha. E da de papel passado.)
Pode ser parecido, mas não é! Isto é tudo verdadinha. E da de papel passado.)
Depois, dois ou três anos
depois, o «Zézito» vai para Lisboa com os pais e as irmãs, fará por lá as Belas
Artes, onde também foi discípulo do Tio, e irá até Paris. Portanto, o Simões
d’Almeida (sobrinho) só voltará a entrar nestas nossas histórias muitos
anos mais tarde… (mesmo que alguém possa achar o contrário).
Ora, se o Pinto casa cá, o Malhoa faz cá casa.
Alguns anos depois Malhoa comprou aqui um terreno (e parece que comprou mesmo…) onde construiu uma
pequeníssima casa[1], apenas com uma divisão. De um lado uma cozinha
minúscula, do outro uma só sala. Para dormirem dividiam parte da sala com dois
biombos, um para fazer o quarto dele e da mulher, outro para o da irmã Maria
Rita. A parte central, no que sobrava, era casa de jantar e de estar. Cá fora,
uma barraca de colmo onde o antigo dono do terreno guardava as coisas da
lavoura servia de atelier.
E de tão pequenino que aquilo
era, o baptizou com o nome de «Casulo».
(Isto, mais ou menos, foi
escrito pelo meu avô, o Esquilo Figueiroa, que em miúdo vinha às bolotas a um
velho carvalho que havia ali ao lado, e viu tudo.) [2]
Era assim. Eu faço um desenho:
Depois, em 1898, Luiz Ernesto
Reynaud, o arquitecto que estava cá a fazer as obras de remodelação da Igreja e
tinha sido colega deles nas Belas Artes e aluno do Simões (o tio), fez o projecto
de ampliação. A antiga casinha (o «Casulo» propriamente dito) ficou para
atelier [3], e encostado mesmo ao lado construiu-se uma nova moradia. Também
pequena, mas com quartos e tudo.
Por volta de 1901 estava quase
tudo pronto.
E ficou assim:
Depois, bem, depois passaram
muitos anos. O senhor Malhoa foi ficando velhinho, os amigos morrendo, e ele
também acabou por morrer. E o «Casulo» foi tendo novos donos, foi servindo para
outras coisas, e foi mudando aos poucochinhos. Mudou mesmo bastante. É giro
descobrirmos as diferenças.
Mas ainda ali está, que as
casas boas resistem a tudo. E podemos vê-lo agora, por dentro e por fora,
descobrir coisas antigas e coisas novas. E voltar a contar histórias.
Ora as histórias podem ser bem
ou mal contadas, das que dá gosto ler e ouvir, ou daquelas trapalhonas e que
não interessam a ninguém. É conforme se queira. Tudo depende do modo como as
deixam contar. Ou de não se armarem em tolos…
1 Jun. 2016.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNoxZ9I1hgX7qr7jK4PrKhsPkBMT2QUZD_oJPhBkAQLnk-GDCQVBeRQiIw0nM7129UBEyUTSRuTadr4It27MX8z6ZRylODVtPAwhnnTB7UTYq6kUpV5Ajx-ZNcqOHYk-p_gBQwwWxwYHQ/s1600/EsqPeg.jpg)
[1] A casa, térrea, uma porta e
duas janelas, teria para aí 8,10m de comprido por 4,70m de largo, o que dá uma
área bruta de 38m2. Se descontarmos a grossura das paredes, a área útil
rondaria os 24m2.
[2] Aqui, confesso, estou a
usar uma figura de estilo, coisas da literatura. Nem por volta de 1898 havia esquilos em
Figueiró – estávamos então extintos - nem os esquilos vermelhos, os da minha
espécie, vão lá muito por bolotas – deixamos isso para os porcos e para os cinzentos,
os americanos, uns outros esquilos que nalguns países da Europa são já uma espécie invasora. Mas
tudo o resto – o carvalho, o avô, o ter visto, o ter escrito – é tudo verdade.
[3] Se olharem bem para os desenhos, verão que a
porta e as duas janelas do atelier seriam as mesmas do antigo «Casulo». Mas
agora alindadas, com as ombreiras, peitoris e vergas marcadas em massa clara,
contrastando com o revestimento almagre da fachada. O mesmo no tratamento dos
cunhais, entablamento e soco, remetendo para a linguagem da nova ampliação, unificando
todo o conjunto.
Note-se que o atelier continuou
térreo, com o piso numa cota intermédia entre a da loja da nova construção (semi-enterrada pelo
tardoz) e a do andar principal. Mas ganhou pé-direito - toda a altura do novo
entablamento.
A nova cobertura, ainda essencialmente de duas águas mas com uma maior
inclinação, era cruzada no seu eixo transverso por um outro sistema também de duas águas. Esta outra cobertura transversal era telhada do lado da
frente, terminando sobre um tímpano triangular de alvenaria na continuidade do plano da fachada, e onde se abria uma pequena lucarna rectangular. Do lado do tardoz era inteiramente vidrada, suportada por uma estrutura metálica, possibilitando assim a entrada a jorros da luz zenital.
Os panos de tardoz e de
empena mantinham-se cegos, tal como na antiga casinha.
(Pronto: lá tive eu de me armar em
arquitecto… mas dos bons. Também, se quero um ninho bem feito lá no alto dum
pinheiro, tenho de ser eu a fazê-lo. E são muitos anos disso...)
Para os devidos e legais efeitos declaro que é cheio de soninho mas bem disposto com esta história que me é contada. Vou nanar. São 02h.20m do dia 1 de junho de 2016. Boa noite. Fernando Pires
ResponderEliminarGrande história para começo e das Boas! Uma história para todos, pequenos e grandes. Esperamos agora pelas outras histórias dos muitos anos que passaram ali o Malhoa, a D. Júlia e a irmã, e dos encontros com o grande amigo Pinto que por lá casou e constituiu grande prole.
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