domingo, 7 de julho de 2013

Ainda sobre a arte da juventude

No artigo anterior, a propósito de uma das exposições agora patentes no Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, referem-se algumas fotografias e imagens da época. O espaço e a necessidade de mostrar antes do mais as Obras ali expostas, levou a que algumas dessas fotos tenham ficado por revelar.
Para uma melhor compreensão do texto anterior, mostram-se agora todas elas. Repetem-se algumas com novas legendas, e acrescentam-se as outras, as que ficaram no tinteiro. O texto pode sempre ser relido mais abaixo…




















José Malhoa, aqui fotografado cerca de 1874, aos 19 anos.


No verso da foto, dedicatória a M.H.Pinto …no dia em que ia «entregar a primeira carta à manasinha», datada de 2 Out. 1874.
Hoje em dia não sabemos muito bem quem seria esta «manazinha», mas se trata de namoro, talvez já a Juliana Júlia - com quem Malhoa se viria a casar em 29 de Janeiro de 1880.













Manuel Henrique Pinto fotografado provavelmente pela mesma altura, então com 21 anos. 
Note-se a semelhança dos chapelinhos…
























Manuel Henrique Pinto 
José Malhoa, fotografados possivelmente no ano seguinte, c.1875. 
Pinto de pé, Malhoa “pintando”.
O chapelinho do ano anterior lá está, pendurado no cavalete. O lacinho, meio à-Lavallière, também já aparece. E reparemos bem na tela que Malhoa faz que pinta, e na outra, no chão, que aparece por detrás das pernas de Pinto…

Manuel Henrique Pinto 
e José Malhoa
em mais do mesmo. 
Agora em troca de posições – Pinto, sentado, “esboça” algo sobre a tela branca, Malhoa observa.
Pelas indumentárias, poucas dúvidas subsistem que esta foto é contemporânea da anterior.
Também as fotos surgem a par.



























Pormenor da primeira foto: a tela que está no chão por entre as pernas de Pinto. 
Tal tela é a mesma que podemos ver ali


Outro pormenor da primeira foto: a mão de Malhoa sobre a outra tela, a que está no cavalete. A mesma tela que também podemos ver no artigo anterior




















João Rodrigues Vieira (1856-1898), José Moura Girão (1840-1916), Veríssimo José Baptista (1852-?), Manuel Henrique Pinto (1853-1912), João Vaz (1859-1931) e, em baixo, José Malhoa (1855-1933). Todos condiscípulos da Academia das Belas Artes. Todos, à excepção do amigo Veríssimo que trocou os pincéis por outra vida, membros do futuro Grupo do Leão. Retratados, mais ou menos ainda pela mesma altura, numa foto, como todas as anteriores, de «J. Loureiro, Fº, Calçada do Duque, 18».

João Rodrigues Vieira, então ainda dedicado à Escultura, é o autor do Retrato de J. Malhoa, 1874, um medalhão em gesso que também ali se mostra.





Requerimento à Academia Real das Bellas Artes, datado de 16 de Março de 1875 – um dia depois de completar 22 anos – onde Manuel Henrique Pinto pede seja passada certidão com o resultado do concurso ao lugar de pensionista do Estado no Estrangeiro.
No canto superior esquerdo, o despacho assinado pelo escultor Francisco de Assis Rodrigues, então Director Geral da Academia - «FAssís, DG.»
A mesma assinatura que atesta, no verso da tela Cabeça de cavalo, 1875, de Malhoa, que tal pintura foi executada como trabalho da Academia…


No verso, a certidão passada e assinada por Joaquim Pedro de Souza, Secretário da Academia.















Foto do verso do Retrato de minha Mãe, 1872, de J. Malhoa.
Como se pode ver, Malhoa usou as costas de uma estampa de geometria para desenhar o retrato de Ana Clemência. Ainda estudante e apenas com 17 anos, o papel era coisa cara e havia que aproveitar tudo…








José Malhoa “pintando” a cabeça do «Salero», c. 1882. Fotografia de Carlos Relvas (1838-1894) executada no seu estúdio da Golegã.
Esta foto, mais ou menos inédita [1], documenta, muito provavelmente, o início da longa relação entre Malhoa e a família Relvas – primeiro com o pai Carlos, depois com o filho José, primeiro na Golegã, depois em Alpiarça…
Aqui vemos um dos primeiros estudos para o retrato do Cavalo «Salero», 1882, mas, pelo que é possível descortinar, talvez ainda não o estudo conhecido, a Cabeça do Cavalo «Salero», 1882, ambos – o retrato do cavalo inteiro e o tal estudo da cabeça – apresentados na 2ª Exposição de Quadros Modernos (Grupo do Leão) e hoje no espólio da Casa dos Patudos. Esta cabeça, que aqui vemos no cavalete, parece ser um estudo ainda preliminar (ou será a mesma, resultado de a esta se ter acrescentado mais uma fatia de tábua?). 
Carlos Relvas registou, nesta bela foto, talvez o primeiro esboço do primeiro trabalho para o qual chamou o ainda jovem Pintor.
Depois do retrato do «Salero», Malhoa irá pintar para os Relvas muita coisa – o próprio Carlos Relvas a cavalo no «Salero», a Mulher de Relvas, a Filha de Relvas, Relvas montado no «Rolito» e o «Rolito» sem Relvas e, ainda, Relvas sentado e sem cavalos - mas isso é depois. 
Como depois repetirá o rol com José Relvas, a Mulher deste e os seus Filhos, substituindo cavalos pelo cão, o «Kaiser»…
Todavia o primeiro trabalho de Malhoa para Carlos Relvas, ainda em 1882, terá sido este - retratar-lhe o seu querido «Salero». Foi de propósito à Golegã e tudo. Quem sabe, chamado, porque Relvas - o pai Carlos - tenha visto uma outra Cabeça de cavalo pintada por um jovem promissor uns anos antes...?

No verso da fotografia, magnificamente impresso com as medalhas e prémios conquistados por Carlos Relvas, a dedicatória de Malhoa  «À Exmª Snrª D. Maria da Conceição Almeida», a tia de Simões d’Almeida que os havia hospedado – a ele e a Pinto – aquando da primeira estada em Figueiró.
Está datada de 31 Agosto 1883, e assinala o início de uma outra história…







7 Jul. 2013. LBG.








[1] Muito semelhante a uma outra, publicada em 1885 em o Occidente, a propósito da 4ª Exposição do Grupo do Leão (1884), numa gravura onde surgem reunidas as fotografias dos nove Artistas expositores desse ano e a de Alberto Oliveira. 
Isto sugere, portanto, que essa outra foto de Malhoa é também da autoria de C. Relvas e anterior, um bom par de anos, à sua publicação pelo Occidente.

4 comentários:

  1. Foi com grande agrado que estivemos a ver as imagens sobre o pintor José Malhoa, depois da visita de estudo que realizamos com as crianças ao Museu de José Malhoa nas Caldas da Rainha. Tomámos a "liberdade" de publicar 1 imagem do pintor no nosso blogue www.jardimdocoto.blogspot.com e gostaríamos que tivesse conhecimento. No entanto, poderá contactar-nos e a imagem será retirada do nosso blogue. Obrigada.


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    1. Caro(a)s Amiguinho(a)s, o gosto é todo meu. Agradeço a vossa atenção e visitem o blog sempre que queiram.
      E, já agora, proponho uma troca de "cromos": vocês levaram, e muito bem, o retrato do Malhoa, eu vou levar os desenhos do Gabriel M e da Diana, de que gostei muito, para os publicar na página de MHPinto. Pode ser?
      Abraços e beijinhos a todo(a)s.
      https://www.facebook.com/media/set/?set=a.562026277155993.125684.300526179972672&type=1

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    2. Só mais uma coisa, que vocês devem gostar.
      O menino que o Gabriel e a Diana desenharam a puxar aquela cabrinha, que teimava em não querer passar o regato, parece que se chamava Noé. Ele e os irmãos eram uns meninos pobres que viviam em Figueiró dos Vinhos. Tomavam conta das cabras e das ovelhas da família, andavam aos pássaros e aos grilos. Eram amigos dos pintores José Malhoa (o que dá nome ao Museu) e Manuel Henrique Pinto (o que pintou o quadro com a cabrinha). Foram muitas vezes retratados pelos dois pintores a fazer coisas que os meninos do campo faziam há mais de cem anos (quando não tinham computadores e brinquedos como agora nós temos).
      A história do Noé e dos irmãos e as histórias pintadas podem vê-las aqui:
      http://provocando-umateima.blogspot.pt/2014/07/os-cachopos-da-fonte-do-cordeiro.html
      Um dos irmãos do Noé, chamado António, depois de crescido, depois de ter andado por África e ter ido para o Brasil, também contou a história. Parte dela pode ser vista aqui:
      http://provocando-umateima.blogspot.pt/2013/01/o-coelho-ver-passar-o-comboio.html

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  2. Para ser mais fácil... deixámos o link http://jardimdocoto.blogspot.pt/2015/03/jose-malhoa-o-pintor.html

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