Um
S. Pantaleão muito martirizado
S. Pantaleão é um daqueles santos esquisitos,
que quase ninguém conhece e poucos lhe viram a cara. Claro que a iconografia ou
a imagem dos santos é coisa que varia muito ao longo dos tempos e das culturas…
Não cabe aqui grande conversa sobre as virtudes
ou história do santo, sobre o seu culto e memórias – podem sempre ser
consultadas por aí, sob várias formas, mais leves ou mais sérias.
Para além de um ou outro pormenor mais
curioso, S. Pantaleão foi, até há relativamente pouco tempo, padroeiro da
cidade do Porto e, há muito sem qualquer celebração religiosa, subsiste em
Figueiró dos Vinhos dando o nome à sua Feira Anual. Em ambos os casos, parece
que a difusão do seu culto se deveu à acção prosélita de D. Diogo de Sousa (1461-1532),
bispo do Porto, arcebispo de Braga, filho dos Senhores de Figueiró.
Curiosamente, em todas estas terras o santo popularmente festejado é, há muito,
S. João. Pantaleão tem vindo a cair no esquecimento, pelo menos quanto à sua
devoção…
Iconograficamente podem existir algumas
dúvidas. «Há representações de São Pantaleão crucificado numa aspa, martírio
semelhante ao de Santo André» - dizem. Além disso também se confunde por vezes a
sua imagética com a de S. Sebastião – pode parecer-se com este, mas com menos “buracos”
de setas…
Mas aqui (vale a pena ler mais - a meio do artigo) um texto que tira as dúvidas: «Na história
hagiográfica deste santo (…) aparece a sucessão de uma série de martírios que
Pantaleão superou com a coragem de um leão, os quais têm a aparência
inconfundível de um processo iniciático superior em que intervêm os quatro
elementos naturais (ar, fogo, água, terra) (…) E logo depois deu-se a
consumação do seu martírio, preso a uma oliveira – árvore sagrada no contexto
religioso mediterrâneo – (…) fazendo este Mestre com que a sua quintessência da
vida que é o sangue, fizesse florescer a árvore e dar frutos …». Trocando por
miúdos – parece que o tentaram matar de várias maneiras e todas falharam,
acabando por o atar a uma oliveira e o decapitaram, o sangue do mártir terá
feito a velha árvore rebentar de novo.
Portanto, na imagética, S. Pantaleão não aparece
«crucificado numa aspa» mas atado a uma oliveira. Tal como nesta imagem,
provavelmente do séc. XIX, existente por Terras do Bouro.
Eis pois, não contando com as relíquias tardo-medievais aqui evocadas num belo texto de D. Manuel Clemente , a representação de S. Pantaleão, o patrono da feira de Figueiró
dos Vinhos.
Mas
uma pergunta subsiste – para ainda dar nome à feira anual, por certo, em algum
tempo, o santo deverá ter tido especial devoção… Nada resta? talvez, por hoje,
disfarçado de algum S. Sebastião numa capela escondida? nem isso?
Resta pelo menos este. Uma pequena imagem (c.24cm)
de S. Pantaleão, atado à oliveira e com algumas chagas dos tormentos.
Aparentemente do séc. XVII ou XVIII, em mau estado de conservação, já sem o
braço direito (que o colocaria, provavelmente, numa posição simétrica do outro,
o do Bouro), com falhas e defeitos, um S. Pantaleão oriundo de Figueiró dos
Vinhos. E, ao que tudo indica, da Cerca das Freiras… Tudo o mais que possa ser
dito serão suposições.
27 Jul. 2013 (dia de S. Pantaleão). LBG
27 Jul. 2013 (dia de S. Pantaleão). LBG
...Mea culpa !
No que acima está dito, com a
pressa, por esquecimento ou ignorância, ficou algo por dizer.
Melhor, foi dito com ar definitivo «na
imagética, S. Pantaleão não aparece “crucificado numa aspa” mas atado a uma
oliveira». Sendo em parte verdade, como vimos pela história do santo, não o
será totalmente. Acontece bastantes vezes S. Pantaleão surgir representado
atado à dita árvore, mas com a forma clara de uma aspa (ou cruz de S. André).
Como se pode ver nesta bela imagem existente na Sé do Porto e referida aqui, em
mais um artigo que ajuda a compreender esta estória.
Ora, claramente dentro desta mesma tipologia,
podemos encontrar uma também interessante imagem de S. Pantaleão na Igreja
Matriz de S. João Baptista em Figueiró dos Vinhos. Á vista de todos. E desta, é
que eu me esqueci!
No retábulo à esquerda da Capela-Mor – o
agora presidido por uma imagem mais recente do S. S. Coração de Jesus – lá está
a imagem de S. Pantaleão, o patrono das Festas da Feira Anual. Atado à
oliveira, mas com os ramos cruzados em X.
Como suspeitava, não numa «capela escondida»
mas na Matriz da Vila, subsiste, e ainda bem, a imagem do santo que em tempos
deve ter sido objecto de devoção importante das gentes figueiroenses.
“Disfarçado” de S. Sebastião – e de tanto o ter ouvido, também eu já estava
convencido – lá está ele, o médico mártir de Nicodémia.
S.Sebastião.
Imagem existente no Convento do Carmo,
Figueiró dos Vinhos.
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O corpo nu, já sujeito aos vários tormentos e
pronto a ser decapitado, miraculosamente não apresenta praticamente marcas do
padecimento, salvo a queimadura junto ao peito.
Ao contrário das representações de S. Sebastião, normalmente prestes a agonizar, crivado de setas, flechas ou virotes, ou das respectivas marcas, como nesta imagem existente no Convento de Nª Sª do Carmo, ao fundo da Vila. Este, sim, é S. Sebastião. Mais "buraco", menos "buraco".
Fica a rectificação.
7 Ago. 2013. LBG
Ao contrário das representações de S. Sebastião, normalmente prestes a agonizar, crivado de setas, flechas ou virotes, ou das respectivas marcas, como nesta imagem existente no Convento de Nª Sª do Carmo, ao fundo da Vila. Este, sim, é S. Sebastião. Mais "buraco", menos "buraco".
Fica a rectificação.
7 Ago. 2013. LBG
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