1900 – A
Condessa de Paris
Não. Não se trata da d'Orléans, da pretendente ao trono gaulês, da
mãezinha da Dona Amélia, da sogra estimada d’el-rei D. Carlos… não!
Tão sómente a Senhora Condessa de Mossamedes [1], retratada por Malhoa em
1899 e cuja tela ele enviou ao Salon de
1900. Esta é a Condessa que foi a Paris.
Malhoa, em quatro momentos, deixa-nos indicações escritas
sobre este retrato e suas andanças.
Anota a sua venda na «Receita» de Dezembro de 1899:
«Recebi do Balthazar Cabral, pelo retrato que fiz a Condessa de Mossamedes –
120$000» e, na linha seguinte, «Importancia
da moldura para o mesmo – 25$000».[2]
Regista, pela mesma altura, a data da
sua feitura e algumas considerações sobre o seu mérito e destino: «…Pintei
igualmente nos mezes de Novº e Dezembro o retrato da Condessa de Mossamedes,
que muito tem agradado, e que eu conscienciosamente julgo sêr o unico que pode
igualar em merecimento o retrato de Madª. Leal, que expus com tanto exito no
“Salon” de 1897 junto com “Os Oleiros” e que tanto enthusiasmou foi celebrado
pela imprensa Parisiense. Isto devido única e exclusivamente a
modello têr a devida compreensão e pouzar-me bem. | José
Malhôa | 31 Dezembro 1899.» [3]
Aponta, na «Despeza»,
o custo do envio do quadro a Paris: «Junho de 1900 | Despeza com a
ida do retrato da Condessa de Mossamedes ao “Salon” – 17$640».
E, finalmente, anota no seu exemplar do Catalogue illustré du Salon, entre Malet e Mallet, a presença hors catalogue e o respectivo número «874a»
do Retrato da Condessa de Mossamedes no Salon de 1900. Como se pode
constatar aqui.
Tudo isto somado à indicação
de The Studio, já anteriormente referida, «The
Lecturer and The Priest of Constance were
exhibited in 1899, and The Portrait of the Countess of Mossamedes in
1900»
[4] deverá bastar para termos
toda a certeza quanto ao quadro que Malhoa levou a Paris, ao Salon, em 1900. Este e não outro.
874a – Retrato da Condessa
de Mossamedes, 1899.
Depois de Paris, o Retrato
da Ex.ma Sr.ª Condessa de Mossamedes será apresentado em Lisboa, na 1ª
Exposição da novel Sociedade Nacional de Bellas Artes, em 1901, com o nº 80 no
catálogo. Só então, alguns comentários surgem na imprensa nacional:
«As
honras da exposição cabem, sem duvida, a Malhôa, que se apresenta
galhardamente. | Um dos seus melhores quadros é o retrato da sr.ª Condessa de
Mossamedes, d’uma factura larga e solida, d’um magnifico desenho e côr sobria (nº80).» [5]
«… temos
Malhôa com os seus esplendidos retratos, que lhe valeram o ser premiado em
Madrid, na terra dos mestres.»[6] [7]
Só em 1928, na Grande Exposição de Homenagem a José
Malhoa, o retrato da Condessa aparece de novo, com o nº cat.137 e com a
indicação da sua dimensão: 70x60.
E, para esturricar de vez As papas…
E, para esturricar de vez As papas…
Para que se perceba o que antes se disse [8], a propósito da errónea
indicação de As papas como a obra
presente neste Salon de 1900, fica a
imagem publicada no Catálogo da Exposição de José Malhoa no Rio de Janeiro, em 1906.
Como se pode ver, este belíssimo estudo a carvão (com o
boneco “da galinha e da poia” na margem direita do papel, possivelmente para
diversão do pequeno Luiz ou da «Êta»), actualmente no acervo da Casa dos Patudos
em Alpiarça, aparece com uma legenda completamente despropositada [9].
Talvez aqui a origem do tal erro recorrente.
Talvez aqui a origem do tal erro recorrente.
12 Jan. 2013. LBG.
[1] Que aqui nos é apresentada por Carlos Lobo d’Avila, meia dúzia de anos antes.
[2] No ano seguinte, no mesmo dia 18 de
Abril de 1900, aparecem mais estas três anotações, uma já antes referida, e
aparentemente todas relacionadas com este personagem: «Retrato do pae do
Balthazar Cabral c/ mª. 25.000 – 145$000», «Venda ao Balthazar Cabral do quadro
“No forno” – 250$000» e «Retrato do Fº. Cabral Metello (moldura 25.000) –
140$000»
[3] Em nota de final de ano, em
Dez. 1899, no seu livro de assentos «Receita | Despeza». Os sublinhados
são do próprio JMalhoa. Está transcrito tal qual o original, apesar da
linguagem confusa da penúltima frase.
[4] R.S. in The Studio. London, Aug. 15, 1905, vol.35. nº149. p.246. Sublinhado meu.
[4] R.S. in The Studio. London, Aug. 15, 1905, vol.35. nº149. p.246. Sublinhado meu.
[5] Henrique de Vasconcellos, in Brasil-Portugal, nº 58, 16 Junho 1901,
p.155.
[6] Xylographo, in Occidente, nº 807, 30
Maio 1901, p.118.
[7] Aqui haverá alguma ligeireza,
infelizmente recorrente, do critico do Occidente.
Nenhum dos retratos de Madrid estava ali exposto – um seria mostrado na SNBA no
ano seguinte e só então premiado, o outro, o premiado em Madrid, só haveria de
ser visto em Lisboa dois anos depois… É por estas e por outras que este Xylographo, por muitos considerado, a
mim, canta bem, pouco me alegra.
[8] Ver aqui, em particular a nota (4).
[9] Aliás, no referido catálogo da Exposição do Rio, 1906, aparecem mais algumas indicações que merecem cuidado e cautela. Desde logo, relembremos o aviso dado por Malhoa - «Cataloguei 112, mas á ultima hora só pude levar commigo cento e quatro, por me tornar completamente impossível acabar os oito que faltavam». Depois, porque algumas obras aparecem com títulos diferentes do habitual dificultando a sua identificação (14- O viactico na aldeia, ou 29- Pae e filha, p. ex.). E surgem ainda outras imprecisões (como a legenda de 16- O azeite novo que o dá como medalhado em 1904, ou a indicação da presença da segunda versão de 24- Á passagem do combóio no Salon de 1905) que, em vez de boquiabrirem Seu Jaca, levam agora ao engano o Jaquim mais a Maria…
[9] Aliás, no referido catálogo da Exposição do Rio, 1906, aparecem mais algumas indicações que merecem cuidado e cautela. Desde logo, relembremos o aviso dado por Malhoa - «Cataloguei 112, mas á ultima hora só pude levar commigo cento e quatro, por me tornar completamente impossível acabar os oito que faltavam». Depois, porque algumas obras aparecem com títulos diferentes do habitual dificultando a sua identificação (14- O viactico na aldeia, ou 29- Pae e filha, p. ex.). E surgem ainda outras imprecisões (como a legenda de 16- O azeite novo que o dá como medalhado em 1904, ou a indicação da presença da segunda versão de 24- Á passagem do combóio no Salon de 1905) que, em vez de boquiabrirem Seu Jaca, levam agora ao engano o Jaquim mais a Maria…
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