Sem muitas considerações, que as imagens
valem por elas mesmas, ficam aqui duas telas, em duas versões, uma de José
António Jorge Pinto, outra de Pedro Jorge Pinto.
As primeiras versões foram retiradas do
catálogo 102 da Cabral Moncada Leilões, de Dezembro de 2008. As segundas, mais
fresquinhas, são do catálogo 57 da Renascimento, para o leilão de Abril.
Há três anos e pouco, ambas as telas, ainda
inteiras, eram-nos dadas como da autoria de Pedro Jorge Pinto.
Intituladas
então “Paisagem com Touro ”e “Burro puxando Nora”, apresentavam-se
como datadas de 1934 e 1930, e dimensionadas com 55x92 e 62x76,
respectivamente. Na primeira era reportado um «pequeno rasgão».
Hoje,
após um, digamos, ligeiro restauro, originado sabe-se lá porquê, aparecem já
diferenciadas na autoria – Pinto, 1895, para o “Bovino Pastando”, ost (colado em madeira) 39,5x69; e Pedro Jorge
Pinto, 1930, para a “Nora com Mula”,
ost (idem) 35x78.
Constata-se assim, para lá do burro se ter
elevado, ainda não a cavalo, mas a muar, que a superfície de ambas as telas
diminuiu consideravelmente e novos enquadramentos dos motivos, ligeiramente
diferentes dos concebidos pelos Autores, nos deleitam.
Mas, e valha-nos isso, já alguém percebeu que
o bovino, capado ou não, terá sido pintado por outras mãos e bem mais cedo que
o anteriormente referido.
Para não asnear, nesta conversa de solípedes,
faço-me de mula e nada mais digo. Nem sobre a excelência das peritagens, nem
sobre a arte do corte e tesoura ou de bem retalhar toda a tela.
Ficam as imagens e cada qual tire as
conclusões que entender.
Devo,
todavia, esclarecer, e à causa de mais confusões, que o «Pinto», o do boi,
será, sem sombra de dúvida, o pai do Pedro – José António Jorge Pinto - como,
aliás, sempre me pareceu, mas que o peremptório «assinado e datado de 1934» anterior,
tornava menos provável…
José António Jorge
Pinto (1875-1945),
lisboeta de nascimento, cacilhense de origem como seu tio Manuel Henrique
Pinto. Foi discípulo de Ferreira Chaves e Veloso Salgado. Começa por se apresentar
na 7ª Exposição do Grémio Artístico, 1897, com três quadros a óleo. No ano
seguinte repete a experiência com mais alguns óleos e um desenho – é-lhe
atribuída uma menção honrosa. Mas logo se dedica preferencialmente à cerâmica,
primeiro na fábrica Constância, depois na de Campolide. Expõe com
irregularidade na SNBA, onde conquista algumas medalhas. Republicano e Maçon, participa
no associativismo operário de cariz republicano. Professor do ensino
industrial, fez parte do quadro inicial do Instituto Superior Técnico.
São de sua autoria numerosos painéis de
azulejo de inegável interesse.
Em Lisboa, podem ser vistos os da Leitaria A
Camponeza (1908), simpático bistrot na Rua dos Sapateiros; os de alguns
quiosques (c.1915/6) no Cais do Sodré, no Jardim Constantino ou no Parque Silva
Porto, em Benfica; parte dos painéis que ornamentam o degradado Pavilhão dos
Desportos – Carlos Lopes – ao Parque Eduardo VII (c.1922) - a outra parte, a sempre
citada, é de Jorge Colaço.
Podemos ainda admirar azulejos seus no
Sanatório da Parede (c.1903/8), em várias moradias da Linha e ainda na estação
da CP do Bombarral (c.1930). Na Casa Cruz Magalhães (1914) - actual Museu
Rafael Bordalo Pinheiro – e na Casa Malhoa [1].
E não se podem ignorar dois importantes trabalhos,
também raramente citados: os painéis para a Casa dos Patudos (1905), a de José
Relvas, em Alpiarça (alguns pode ver aqui) , e para o Palácio da Brejoeira (c.1909), em Monção – esse
mesmo.[2]
Pedro Jorge Pinto (1900-1983), filho do
precedente, discípulo de Columbano e Veloso Salgado, participa já nas
exposições da SNBA, não só com pintura a óleo, mas também com aguarela, desenho
e gravura. Várias vezes galardoado pela SNBA – 1ªs medalhas em aguarela e
desenho, 2ª medalha em pintura -, conquista a medalha de ouro na Exposição
Internacional do Rio de Janeiro, em 1922. Professor do ensino industrial, foi
durante longos anos docente na Escola António Arroio.
Também dedicado à cerâmica, são de sua
autoria numerosos painéis de azulejos, desde os que ornavam o muro do Mercado
de Setúbal, recentemente derrocado, até ao imponente painel cerâmico da
Cervejaria Solmar, às Portas de Stº. Antão, bem anos 50's e que vale bem uma
visita.[3]
E, nestas coisas, convém saber distinguir o
alvarinho da imperial… e não emborcar a primeira zurrapa que se nos oferece.
Publicado originalmente em 21 Mar. 2012.
Revisto em 25 Abr. 2012. LBG.
[1]. Ver nota em aqui
[2]. Agradeço o contributo pessoal e a tese do Arq. António Cota para a revisão da biografia de José Antº Jorge Pinto.
[3]. Na nota biografica de Pedro Jorge Pinto seguiu-se, no essencial, Fernando de Pamplona - Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Civilização, 2000.
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