Li
há tempos, e com toda a satisfação, na entrada que Maria de Aires Silveira
escreve sobre Outono, 1918, no novo
catálogo do MNAC – Arte Portuguesa do Século XIX (1850-1910) - 2010, a
indicação da Exposição realizada no início de 1918, como a de apresentação
daquela obra de Malhoa. Finalmente! Finalmente alguém percebe que a treta do
quadro só ver a luz do dia em 1921 não passa disso mesmo – uma treta!
(Finalmente,
não - justiça seja feita - que já no anterior catálogo, o de 1994, MAS havia
tido o cuidado de escrever o mesmo. Eu, confesso, não havia dado por isso. E,
pelo visto, quase toda a gente - que a parvoíce continua…)
Mas,
se MAS, e muito bem, indica 1918 como o ano da primeira exposição de Outono, 1918, continua a lá deixar a
malfadada exposição de 1921!? Que se passa, não quer contrariar o
"estabelecido"? Eu ajudo.
Vamos
lá ver: Malhoa leva o Outono, 1918 – o
que está no MNAC, não haja qualquer dúvida - à Exposição dos “Consagrados” da
SNBA, de 1918, pedindo por ele 800$00. Vende-o para o Museu, coisa que anota no
catálogo. É comprado com o dinheiro do Legado Valmor. Malhoa fica todo
contente, e a história está contada, tal como Malhoa a conta em carta de
29.2.1918, por Matilde Tomaz do Couto no Catálogo Malhoa e Bordalo, Caldas
2005, p.25. «…ver adquirido para o Museu d’arte moderna, o meu quadro das
cerejeiras no outono… pela Comissão das Compras para o Museu, que é d’uma
exigencia medonha!»
(Um
pouco atrás, MTC dá-nos, inclusive, conta de que essa Exposição é organizada
sob a direcção do próprio Malhoa, então presidente da SNBA, e das consequências
do cansaço que tal lhe provocou – mas o melhor é irem lá ver, que tal Catálogo
é, a todos os títulos, muito recomendável.)
E,
fica bem claro, neste Outono o que
vemos são as cerejeiras da quinta da Fontinha em Figueiró e não, por muito que
a vários custe, plátanos, choupos ou castanheiros, de Chão de Couce ou de
Raio-que-os-parta…
Três
anos depois, na SNBA de 1921, Malhoa apresenta, de facto, um (outro) Outono, pelo qual pede 250$00. Alguém
pode achar que estamos perante o mesmo quadro?
Obviamente
que não!
Ninguém,
em seu perfeito juízo, pode conceber que um quadro, comprado para o Museu
d'Arte Contemporânea por 800$00 – uma bela quantia à época – e que no seu
acervo está há três anos, de lá saia para ser posto à venda por 250$00, em
1921. E que, de novo, volte ao Museu. Ou pode?!
Do
mesmo modo que a sucessão das estações nos dá um novo Outono cada ano, Malhoa
terá pintado vários Outono(s), Vinha(s) no Outono e por aí fora… Estamos, claramente, perante quadros
distintos.
É
pois altura de se acabar de vez com o equívoco!
Equívoco que vem de trás. Originado, por um lado, por
nas várias listagens de obras e exposições de Malhoa, até hoje publicadas, nunca aparecer assinalada a referida
Exposição dos “Consagrados” do início 1918 e as 21 obras ali mostradas –
algumas, como é o caso, pela primeira vez.
Por outro lado, por uma outra treta, felizmente já em
desuso, e que leva, inclusive, a que nalgumas publicações esta obra apareça
“convenientemente” datada como de 1919 – isto apesar de claramente assinada:
«José Malhoa, 1918». Tal treta procura, à viva força, relacionar dramaticamente
este Outono, 1918, com a morte de
Júlia Malhoa [1], situando-o
ora como prenúncio desta, ora como a primeira obra realizada após o período de
nojo. Como entre o Outono do ano de 1917 - a última estação da queda da folha
em que o quadro pode ter sido pintado - e o dia 2 de Janeiro de 1919 – pese a
alguns, a data da morte de Júlia - medeia mais de um ano e muitos outros
quadros pintados…Também, por este lado, estamos conversados.
Como
conversados ficamos no que toca a trazer para este assunto uma croniqueta
obscura de 1921. Francamente!? Interessa-me cá bem, quanto a este «excepcional»
Outono, 1918, o que alguém escreveu
sobre um outro Outono qualquer de que
não reza a história!? Eu estou a olhar para alhos, o outro fala-me de bugalhos!
Ora bolas! «Mestre Malhoa está muito longe nesta exposição» - pois está! Nisto,
pelo menos uns três anos… e, depois da crónica despropositada, mais uns quatro
sem expor na Sociedade… Às vezes, tamanha “erudição”, se não fosse triste, era
ridícula. Adiante.
Porque
hoje estou bonzinho, fica o Catálogo [2] da dita Exposição dos “Consagrados” da
SNBA, em Janeiro de 1918. E não digam que o levam daquí...
Publicado originalmente em Jan. 2012. LBG.
[1] …E, nesta
conversa, quando não é o Outono, lá
vem o Remédio…não tem remédio!
[2] Para uma melhor leitura das folhas do Catálogo, clicar sobre as imagens.
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