![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-2-nT6DQF5BbUwhvUhO42HkMSPYAjVUKQ0teTvne1OtDnqgKSx2MbJ8RHwNnYiobK44d_qBY4Pvsba4kXIpI4e5idocXbXqtS4-NnKiNXbXg_H-lIknj2nb3I69_pdAbqdvxwLU8ZE6w/s200/FV.Barreiros.capa.jpg)
É, dizia, um livro fundamental. Que vale a
pena ler para se perceber uma boa parte da história de Figueiró dos Vinhos, não
só no período referido mas de uns bons anos para trás.
Aviso já que o livrinho abre com a foto do
Carmona, frase feita de Salazar e retrato do mesmo “botas”. Muita União Nacional,
muito Diário da Manhã, muito “venerando e obrigado”. Mas, se dermos o desconto
devido, se nos abstrairmos da senha antidemocrática que, por aqueles anos,
atingiu muito boa gente, encontraremos bastantes coisas interessantes.
O Dr. Barreiros, médico municipal desde a sua
formatura em 1920, inicia o seu combate político ainda em plena República. À
antiga, truculento, “com eles no sítio”, com caciques e caceteiros, ódios
pessoais e jornais panfletários. Em 1924, com o seu grande amigo Dr. Martinho
Simões, funda A Regeneração, jornal de longuíssima vida e que só vem a terminar
já em 1979.
O golpe de Maio de 1926 abre-lhes as portas da
Administração Municipal, da Câmara Corporativa e do partido único. A sua acção
em prol de Figueiró afigura-se notável, reconheça-se. As suas influências no
seio do regime, mais que em proveito pessoal, aplicam-na no desenvolvimento da
sua terra.
A leitura do livro revela um homem frontal e
dinâmico, bruto e teimoso, mas um «Homem bom».
Considerá-lo um «herói» já será manifesto
exagero, e seria tomar partido - para isso é preciso ter várias coisas no sítio.
Vamos então ao livro
[2].
Entre entrevistas, relatórios e manifestos,
relatos pujantes e alguns exageros - como já não é connosco, agora divertidos -
ficamos com uma ideia geral da história figueiroense da segunda e terceira
década do séc. XX. Está lá tudo!
E, a não ser que o Dr. Barreiros fosse um
grande mentiroso, o que não parece, algumas contradizem histórias mal contadas
a que nos foram habituando.
Ficamos a perceber a génese da primeira
Comissão Administrativa do Município, logo em 1926. Solução negociada no
Governo Civil de Leiria e que dá a presidência ao Dr. Martinho Simões, pelos
nacionalistas, tendo como vogais José Manuel Godinho, pelos democráticos, e o
Tenente Manata, pelo «terceiro grupo» (o dos independentes?). É este o
triunvirato que fica à frente do Município, ainda com Barreiros de fora
[p.42…p.51…].
Por volta de 1928, Martinho Simões troca a
Câmara por um lugar no Ministério do Interior, e a coisa treme [p.53]. Mas a
acção do amigo na elevação de Figueiró a «estância de Turismo» e a consequente
nomeação de Barreiros para presidente da Comissão Municipal de Turismo,
compensa a ausência [p.56]. Estradas, pontes e jardins surgem sob a égide da
nova Comissão, como que em substituição da própria Câmara [p.56, p.59].
Câmara a que, finalmente, Barreiros chega -
«em 1930 fomos chamados a intervir na administração municipal, como
vice-presidente», diz-nos [p.60].
Curiosamente, em 1942, já depois da morte de
Martinho Simões, já com Barreiros na presidência, depois de muitas peripécias,
e já com os verdadeiros «inimigos» acoitados dentro da sua União Nacional,
serão ainda aqueles antigos republicanos os que o acompanham na gerência do
Município – o Tenente Manata na vice-presidência e Godinho como vogal, aos
quais se junta o Dr. Denis Ferreira.
Sintomático
é o relato que nos deixa das negociações, mediadas por Byssaia Barreto, em
1937, entre as suas hostes e os «antagonistas», ora convertidos e instalados no
seio da União Nacional. A détente passa
pela manutenção da gente de Barreiros à frente da Câmara, cedendo o controlo do
Concelho Municipal e do Partido aos opositores. «Até aqui lutávamos contra um
inimigo fora das trincheiras onde nos abrigávamos (…) agora tínhamos de lutar
com ele dentro delas» [p.121 a p.123]. De tal modo e logo adiante, denuncia
mais um dos planos para o seu assassinato a soldo…
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr23ASx_1j2dcpjy8qJRDRrM39XK2El6isOPVgOhgOM3wsaksetnpYH9CpMyqCKMSc-IVkMkBqWJYewWkBfG3CxjilKK4ly35SDaa1sl0jNaLvGgJmOaidSEefmAIWdNlEeMsps1P4Swk/s200/FV.Barreiros.171.jpg)
Podemos ler episódios deliciosos. Como o do
opositor que continuava a usar candeeiros a petróleo depois de já instalada a
luz eléctrica, só por esta ser obra da «Ditadura»… [p.171].
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2W5HLFUIzxEtm4Oy4hyA-bN4S21aP7VPR1idIrxVwdIKUtVITKF0_evmHNCyG9dK1AmwQbhO9Go6AU_gnmM8BzfFxbvbysGSU9g2YVFbnTMFsC2Y0jl9eH8c-ZVVlUb3B9Sflq3I52Bk/s200/FV.Barreiros.57.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJrg3Zs2GfBVeOgwGxUrHkBreV-ubk5TLpiTfiUl7AWlVepjomhUqfG5Fo7Fdsg3iI6-LbcaR6V1Ce3kTQEEg87fprIhc4gWm5OlrTRrUTSSKZPQ6ZpPDZtajaye-ydb3TPnpdrxdMxtE/s200/FV.Barreiros.58.jpg)
Sobre a ponte da Bairrada (ou da Bouçã)
podemos ler: «a estrada de acesso ao Rio Zêzere, ao local onde depois iria
acabar de se construir [3] a ponte que liga
os dois distritos» [p.59]; «À distância de 7.800 metros da Vila (…) está a
ponte da Bairrada, sobre o Zêzere, junto à foz do Rio Bouçã que ali vai
desaguar (…) moderna, de três arcos, serve de comunicação entre a Beira Litoral
e a Beira Baixa, por uma estrada recém-acabada de construir» [p.35]; «A ponte
sobre o Zêzere, nas Bairradas, foi finalmente construída» (Diário da Manhã,
1931) [p.164].
Sobre a luz eléctrica, mau grado notícias de
intenção, que não passaram disso mesmo, bem mais antigas, podemos ler: «A Lapa
da Moura (…) ali se construiu em 1928 a central hidro-eléctrica que alumia a
Vila» [p.36]; «Era, de momento, a maior aspiração a satisfazer, a luz eléctrica
para iluminação particular e pública. Era sonho de há anos, que Câmara alguma
conseguira efectivar. Pertenceu a esta Comissão [a presidida por Martinho
Simões] a honra e glória de iluminar este encantador rincão…» e logo se destaca
o importante papel desempenhado pelo Tenente Manata [p.53]. E, mais á frente,
ainda se volta ao assunto [p.97].
Entendemos, finalmente, que edifícios da
Câmara não foram dois, foram quase três. (E ainda nos livrámos de um outro,
mais do respectivo plano, com igreja e tudo, que, graças a Deus!, não fazem cá
falta nenhuma…) [p.107, p.160a, p.176ª, p.207].
A história é macaca. O velho Paço Municipal,
coitado [4], que na verborreia do Dr.
Barreiros «simboliza o desleixo» ante-salazarista, foi reconstruído, aumentado
em mais um piso e embelezado. Já com a Câmara e várias repartições públicas
instaladas, prontos a serem inaugurados oficialmente, pelo 10ºaniversário do 28
de Maio, os novos Paços do Concelho arderam. A perda foi enorme, principalmente
quanto a registos e outra documentação. O que agora lá vemos, é basicamente o
mesmo, logo reparado e alvo de ligeiras modificações [p.99, p.106, p.180,
p.196]. Em 1942, segundo O Comércio do Porto, já estariam de novo prontos e o
hospital em estado adiantado [p.206…].
De tudo, quanto à vida de Figueiró por
aqueles anos, ali podemos encontrar. Da Banda ao «Foot-Ball», do Grémio da
Lavoura ao Hospital, do mercado do peixe ao que se queira. É procurar…
Por fim, de Agosto de 1941, de um manifesto
de «um grupo de amigos» publicado a propósito de mais uma afronta a Barreiros,
encontramos isto sobre o Casulo de Malhoa [p.215].
Ora, este simples parágrafo, escrito há
setenta anos, contradiz, e muito, uma história mal contada e que atira para as
costas largas da SNBA o ónus da pouca-vergonha. [5]
Confesso que é assunto que me penitência.
Leitura apressada do testamento de Malhoa e simples dedução lógica, sem outras
premissas como a aqui escarrapachada, para tal apontava. Mas, de inocente
conversa de café entre amigos, a coisa parece que passou ao livro de Jorge
Gaspar [6].
Que agora é fonte, e das formais. Cresceu e multiplicou-se. E corre por aí,
acrescentando-se-lhe sempre mais um ponto…
Fica, por enquanto, só isto. A ver se a fonte
seca.
Quanto a fontes, em Figueiró e apesar dos
avisos camarários, continuarei a beber na de S. Sebastião ou na do Casulo -
onde a água é bem melhor.
Publicado
originalmente em 31 Mar. 2012. LBG.
[1]
Pode ser consultado na íntegra em:
http://www.bmfigueirodosvinhos.com.pt/docs/20106.pdfna utilíssima colecção on-line da Biblioteca José Simões de Almeida Júnior.
[2] Ficam aqui algumas páginas
soltas. Clicando em cada uma deverão poder lê-las em condições. Há sempre a
alternativa de aceder à ligação anterior.
[3] Sobre este assunto,
tenho ideia de ter lido algures (e agora não encontro, mas fica a nota) que já
desde 1913 (?) lá estariam os «simples da ponte» - “simples” é a estrutura ou
armação, geralmente de madeira, que serve de molde ou apoio para a construção
dos arcos ou abóbadas de pedra. A expressão usada, «acabar de se construir»,
parece confirmar isso mesmo – a obra já estaria lançada e à espera, havia anos…
[4] Os antigos Paços do
Concelho - com a dignidade possível, pelo que se vê na foto - teriam sido obra
do Dr. Manuel de Vasconcellos, em 1874. Isto segundo conta António A. Lopes
Serra no seu artigo no álbum - Figueiró dos Vinhos Estância de Turismo - 2ª edição,1938,
p.24.
http://www.bmfigueirodosvinhos.com.pt/docs/20943.pdf
Se, trinta e poucos anos depois, o Dr. Henrique se fazia esquecido, agora, setenta e tal anos depois, posso eu bem relembrar…
[6] Refiro-me a: Gaspar,
Jorge e outros - Monografia do Concelho de Figueiró dos Vinhos – CMFV, 2004. Consultável
em:
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