Encontrei muito recentemente estas imagens de
duas pinturas a óleo. Achei que valia a pena partilhar e chamar a atenção para
elas.
Ao contrário do que agora é costume, em que
se compara, a torto e a direito, a propósito e a despropósito, tudo e mais
alguma coisa, a comparação aqui é evidente. Trata-se de dois quadrinhos com
tomadas de vista muito semelhantes, datados do mesmo ano, pintados por dois
grandes amigos – ex-mestre e ex-aluno – um Escultor, outro Pintor. Quem sabe se
pintados a par, ao mesmo tempo, na mesma jornada ar-livrista…?!
Peço desde já desculpa por não verem aqui uma
dúzia, um par, ou sequer uma só personagem a tocar viola, agarrada a uma
guitarra ou outro instrumento de cordas – isso é que era!... Mas não temos.
Por hoje, só paisagem naturalista, da
primeira, ainda do tempo do Grupo do Leão.
Sobre a pintura de José Simões d’Almeida Júnior (1844-1926), intitulada no tal
catálogo «Vista de rio com arvoredo e casario», lemos que é um «óleo sobre cartão
prensado, assinada e datada, 1887 (com dedicatória no verso)», infelizmente não
nos são dadas as dimensões da obra.
Já o quadro de José Malhoa (1855-1933) é ali intitulado «Vista de aldeia à beira
rio», dizem-nos que é um «óleo sobre madeira, assinado e datado, 1887», com
15x24 cm, e indicam ainda que «figurou na grande exposição do pintor, em 1928».
(Esta última indicação é duvidosa - numa
rápida verificação, não o encontro. Mas não é isso que agora interessa…1)
Poucas dúvidas haverá que ambas registam o
mesmo – o Nabão em Tomar – com uma ligeira diferença nas tomadas de vista – daí
a possibilidade de haverem sido feitas a par, um colocado mais à esquerda que o
outro – mas com uma interpretação e leitura bem diferentes do real. Do registo
das silhuetas, ao tratamento dos planos construídos, e até na contagem do
claro-escuro dos vãos…
- Não é o mesmo cenário! – dirão – Até pode
ser, mas depois de obras de alteração!
Olhem que não! Aquilo é a mesma coisa e, a
acreditar nas indicações que nos são dadas pelos catálogos, pintadas no mesmo
ano. E a hipótese de o terem sido ao mesmo tempo, numa ida ou vinda de ambos de
Figueiró dos Vinhos, não seria coisa de estranhar…
Repare-se de novo. Como quem procura “as sete
diferenças” nos passatempos do jornal.
Agora, semicerrando a vista, numa visão
global…
É a leitura de um Escultor versus o registo
de um Paisagista? É uma visão ainda um pouco «Romântica», ou já «Realista»,
contra uma interpretação «Naturalista», ligeiramente «Impressionista»? Ou é
tudo isso ao mesmo tempo, naquilo que se veio a chamar Naturalismo em sentido
lato e, definitivamente, depois da aventura do Grupo do Leão (1881-1889)?
Porque durante esse período, sejamos sérios,
os novos termos eram usados um pouco indiferentemente pelos mais diversos
“críticos” ou “teóricos” – que, contrariamente ao que agora parece a uns tantos,
não seriam melhores nem mais bem preparados que os Artistas, talvez antes pelo
contrário…
O que torna estes dois quadrinhos (creio que
o do Simões também seja de pequenas dimensões) tão interessantes é isso mesmo:
a prova provada que o registo naturalista – logo este, o inicial - vai para
além da realidade e, para lá do que se diz, interpreta, impressiona e
impressiona-se. Reinventa e compõe, em plena liberdade.
Só isso justifica, por exemplo, o sucessivo
pairar pelos céus de Figueiró da silhueta do Convento do Carmo que nos aparece
em muitos quadros de Malhoa nas situações mais inverosímeis… Ou nunca
repararam?!
Ficam as imagens. Dão para muita conversa.
Publicado originalmente em 4
Abr. 2012. LBG
1. Este quadro figurou, sim, na Exposição do Cinquentenário da morte de José Malhoa, IPPC 1983, e no respectivo catálogo sob o nº 8 e o título «Paisagem».
Figura igualmente no livro José Malhoa, Arting 2008, com o título «Vista de Aldeia», mas com a datação manifestamente enganada.
1. Este quadro figurou, sim, na Exposição do Cinquentenário da morte de José Malhoa, IPPC 1983, e no respectivo catálogo sob o nº 8 e o título «Paisagem».
Figura igualmente no livro José Malhoa, Arting 2008, com o título «Vista de Aldeia», mas com a datação manifestamente enganada.
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